Roteiro homilético
Missa em ação de graças pelo 150° de Aracaju
Liturgia da Palavra:
Zac 8, 1-8; Sal 101; Heb 13, 1-8; Lc 10, 1-11
Essa pagina do Evangelho que acabou de ser proclamada traça diante de
nós um verdadeiro mapa com o qual poderemos perseguir a missão de Cristo, a
missão da Igreja e dos cristãos e, podemos atrevidamente dizer, a missão da
cada homem de boa vontade.
Como houve uma missão confiada aos doze apóstolos na Galiléia[1],
narra-se nesse texto que acabamos de escutar a missão dos 70[2]
na Judéia. Assim temos um segundo circulo de expansão, que pode refletir a
intenção de Lucas dirigindo-se a comunidade crista. Mas, na Bíblia, o que
significa esse numero? Setenta eram os povos que compunham a humanidade[3];
como setenta eram os auxiliares de Moisés, participes do seu espírito[4].
Eis o sentido dos setenta nesse texto sagrado. E aparece-nos outra pergunta: o
que deseja anunciar o escritor sagrado quando utiliza a simbologia dos 70 (72)?
Inserir aquela primitiva comunidade cristã no desejo propagador da Boa Nova por
toda a humanidade, inseri-la na missão de todo cristão.
Não contentando-se com o “ide”, Lucas descreve as condições gerais para
fazer mais eficaz esse anuncio:
1. Renuncia
às seguranças e comodidades, para acreditar e apresentar ao vivo a mensagem,
2. Levaram
a paz com mansidão: não aquela da saudação convencional e apressada; a paz
messiânica, eficaz se vem acolhida, mas que se converte em condenação se é
recusada,
3. A tarefa
é anunciar a boa noticia do reinado de Deus e curar os enfermas
4. Devem
confiar na generosidade que a sua mensagem suscita, sem abusar dela,
Podemos contemplar, perseguir, como dizíamos ao inicio, a missão de todo
e cada cristão: lançar-se nos braços de Cristo (pela estrada do despojamento), sair
de si para ser “a;ggeloj” (anjo
ou mensageiro), da paz de Cristo, uma paz messiânica, a paz da certeza de que
Jesus é o Senhor, Verbo encarnado no nosso meio; por fim, fazer manifestar na
vida a felicidade transformadora da vida de Cristo nas nossas vidas. È um
itinerário que parte do encontro intimo, pessoal, ao abraço cósmico de não só
toda a humanidade, mas sim, de todo o criado, obra-prima do Criador.
Tendo em mente o amor doação, as vezes que tive tempo de admirar Aracaju
do alto da colina de Santo Antônio pude voltar no tempo imaginando o dia em que
ela, nascida do arraial de pescadores chamado Santo Antônio do Aracaju, seria
germinalmente preparada para virar a nossa “Cajueiro dos papagaios” por meio do
engenho de Basílio Pirro e da coragem e firmeza de Inácio Barbosa.
Penso que, como eu, Sebastião José Basílio Pirro também deve ter ido
àquela colina. Abrigando-se à sombra da capelinha ali existente naquela época,
admirou e naquela mirada quase mística planejou a cidade, edificada sob um
projeto que traçava as ruas em linha reta, formou quarteirões que lembravam um
tabuleiro de xadrez.
Talvez Basílio Pirro não pode perceber que na sua humildade silente aquela
capelinha já pode prever que rasgando os céus daquele Aracaju surgiria a Igreja
do Santo Antônio; e dali, como em vôo de águia, aquela nova igreja, silente e impávida veria o tabuleiro avassaladoramente engolir
mangues e dunas, superando o seu sonho.
Fugindo a toda convencionalidade a cidade, planejada especialmente para ser
a sede do Governo do Estado, cresce por onde pode e, não obstante as seqüelas
dessa expansão que foge a esquemas, manifesta o que o Fernando Porto, chamaria
de “uma das mais felizes vitórias da Geografia”. A historia pode superar até
mesmo os sonhos de homens do quilate do engenheiro Sebastião José Basílio
Pirro, mas, foi o olhar futurístico dele que deu margem à ousadia da historia.
D’outra parte, quem atiçaria a arte de Basílio Pirro? Felte Bezerra,
outro grande pesquisador sergipano, no seu estudo “Etnias Sergipanas” debulha
os fatores que colaboraram para que o açúcar se tornasse, produto básico da
província e se fosse o pivô da mudança da capital de São Cristóvão para
Aracaju.
Uma cidade provida de um porto seria fundamental para o crescimento de
Sergipe del Rey. E no coração de Inácio Barbosa, este motivo bastaria como
alavanca para tal empreitada. Assim que, partir de 1854, Inácio Barbosa começou
a colocar em prática seu plano de mudar a capital de Sergipe. Transferiu órgãos
públicos para a praia do Aracaju (prainha do Bairro Industrial), perto da foz
do Rio Sergipe, já visando o surgimento do porto. Eles justificava: “Sergipe é
uma província pequena e pobre, não se pode dar ao luxo de gozar de uma capital
e um porto marítimo, separadamente”.
A idéia de transformar em capital um povoado cheio de areais e de brejos
não agradava a todos; mesmo assim o projeto foi aprovado e sancionado no dia 17
de março de 1855, há exatamente 150 anos, constituindo um dos atos de maior
repercussão na vida sergipana, considerado na época, e ainda hoje, um ato de
grande coragem e tenacidade por parte desse grande homem de governo chamado
Inácio Barbosa.
Este Cajueiro testemunhou, desde os seus primórdios, a presença ativa desses
homens, membros do Povo de Deus. Os umbrais de Santo Antônio e da Imaculada
Conceição testemunharam - e testemunha hoje - a preocupação de homens e
mulheres em construir uma cidade dos homens que flui,como as águas do rio
Sergipe, em direção à Cidade de Deus. Com este afã o nosso saudoso Monsenhor Olímpio
Campos dedicou a sua voz e a sua pena, perseguindo o progresso para a cidade e
para os seus cidadãos, dando esplendor a já então reconhecida preocupação da Igreja
pelo bem do seu rebanho. Muitas outras contribuições os filhos e filhas da
Igreja deram para a consolidação desse sonho.
Olhando a historia recente da nossa cidade podemos perguntar: Como Dom
José Tomas, primeiro bispo desta arquidiocese, traduzia em vida o seu amor e
devoção ao Sagrado Coração de Jesus, à Eucaristia e ao clero? Porque Dom
Fernando Gomes, fez-se ponte entre a Igreja e o Regime de 64? O que impulsionou
dom José Vicente Távora, nosso saudoso predecessor, que descansa aqui nessa
catedral[5],
a fazer de Aracaju, de Sergipe, um forte pólo de difusão do Movimento de
Educação de Base, areópago do método paulofreiriano de educação e conscientização?
O que o levaria a fazer de Aracaju a vanguarda na defesa dos direitos humanos
nos anos difíceis do pos-64? Na PROCASE (Promoção do Homem do Campo de
Sergipe), na Faculdade Católica, semente da nossa Universidade Federal; obras
políticas da genial mente de Dom Luciano Cabral quais eram os mais profundos objetivos?[6]
Pensemos às gerações amamentadas no seio do saber dos nossos colégios Arquidiocesano,
São salvador, Salesiano,... pensemos à vida de homens como Padre Pedro, Padre
Melo, Frei Miguel, Irmã Valdelice,... façamos reverencia a tantos e tantas que
doaram as suas vidas pela causa do Reino em terras aracajuanas.
Deixando de lados os nossos prelados, pensemos aos nossos grandes leigos
de ontem e de hoje[7], que fazem de suas vidas
uma pagina viva do Evangelho, certos de que a missão de humanizar este
Tabuleiro de Xadrez é de todos e de cada um. Com as suas vidas eles fazem ecoar
aquele trecho do Evangelho de hoje: “... sabei que o Reino de Deus chegou”. Tantos
Inácios, Olimpios, Pedros, Josés e Marias todos olhando para
Aracaju, daqui ou desde a eternidade, e vislumbrando o seu devir. Mas, meus
irmãos e irmãs, lembremo-nos os sonhos partem do real; e a construção desta
nova realidade hoje, nesta celebração vem iluminada pelos sábios e santos
conselhos do autor da Carta aos Hebreus. Somente a perseverança no amor
fraterno, que inclui a hospitalidade, solidariedade e o desinteresse poderá
fazer afloram na nossa cidade o seu verdadeiro devir: lugar de homens, polis
que revela com a sua humanização o rosto de Cristo ao homem com fome de Deus e
de Justiça.
Havendo presente na nossa mente o autor sagrado, recordemo-nos dos que
deram a vida pelos ideais do bem comum nesta cidade, por “Jesus no outro”;
acreditando na possibilidade do nascimento da civilização do Amor. Por cima
daqueles que passaram e de nós que passaremos Jesus Cristo abarca a todas as
idades, é contemporâneo de todos, não muda. A ele confiamos as nossas mais
profundos votos de que possa ser escrito no coração da nossa cidade a palavra
homem em grande, a saber: Cristo, Senhor do tempo e da Historia, o mesmo ontem,
hoje e sempre. Seja Louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!
[1] Cf. Lc 9, 1-6.
[2] 72 em alguns escritos.
[3] Segundo Gn 10.
[4] Cf. Nm 11, 16-30.
[5] Pode se indicar para a
assembleia o lugar onde jaz dom Vicente, a saber, diante do altar maior da
Catedral.
[7] Augusto Franco, Manuel Cruz,...
__________________
Fonte da base histórica:
FREIRE, Gilberto, Nordeste, Global,
2000.
http://www.infonet.com.br/cinformmunicipios/municipio_aracaju.htm
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