02 marzo, 2013

Cronaca - "Desde aquela capelinha"


Roteiro homilético 
Missa em ação de graças pelo 150° de Aracaju
Liturgia da Palavra: Zac 8, 1-8; Sal 101; Heb 13, 1-8; Lc 10, 1-11


Essa pagina do Evangelho que acabou de ser proclamada traça diante de nós um verdadeiro mapa com o qual poderemos perseguir a missão de Cristo, a missão da Igreja e dos cristãos e, podemos atrevidamente dizer, a missão da cada homem de boa vontade.
Como houve uma missão confiada aos doze apóstolos na Galiléia[1], narra-se nesse texto que acabamos de escutar a missão dos 70[2] na Judéia. Assim temos um segundo circulo de expansão, que pode refletir a intenção de Lucas dirigindo-se a comunidade crista. Mas, na Bíblia, o que significa esse numero? Setenta eram os povos que compunham a humanidade[3]; como setenta eram os auxiliares de Moisés, participes do seu espírito[4]. Eis o sentido dos setenta nesse texto sagrado. E aparece-nos outra pergunta: o que deseja anunciar o escritor sagrado quando utiliza a simbologia dos 70 (72)? Inserir aquela primitiva comunidade cristã no desejo propagador da Boa Nova por toda a humanidade, inseri-la na missão de todo cristão.
Não contentando-se com o “ide”, Lucas descreve as condições gerais para fazer mais eficaz esse anuncio:
1.    Renuncia às seguranças e comodidades, para acreditar e apresentar ao vivo a mensagem,
2.    Levaram a paz com mansidão: não aquela da saudação convencional e apressada; a paz messiânica, eficaz se vem acolhida, mas que se converte em condenação se é recusada,
3.    A tarefa é anunciar a boa noticia do reinado de Deus e curar os enfermas
4.    Devem confiar na generosidade que a sua mensagem suscita, sem abusar dela,
Podemos contemplar, perseguir, como dizíamos ao inicio, a missão de todo e cada cristão: lançar-se nos braços de Cristo (pela estrada do despojamento), sair de si para ser “a;ggeloj” (anjo ou mensageiro), da paz de Cristo, uma paz messiânica, a paz da certeza de que Jesus é o Senhor, Verbo encarnado no nosso meio; por fim, fazer manifestar na vida a felicidade transformadora da vida de Cristo nas nossas vidas. È um itinerário que parte do encontro intimo, pessoal, ao abraço cósmico de não só toda a humanidade, mas sim, de todo o criado, obra-prima do Criador.
Tendo em mente o amor doação, as vezes que tive tempo de admirar Aracaju do alto da colina de Santo Antônio pude voltar no tempo imaginando o dia em que ela, nascida do arraial de pescadores chamado Santo Antônio do Aracaju, seria germinalmente preparada para virar a nossa “Cajueiro dos papagaios” por meio do engenho de Basílio Pirro e da coragem e firmeza de Inácio Barbosa.
Penso que, como eu, Sebastião José Basílio Pirro também deve ter ido àquela colina. Abrigando-se à sombra da capelinha ali existente naquela época, admirou e naquela mirada quase mística planejou a cidade, edificada sob um projeto que traçava as ruas em linha reta, formou quarteirões que lembravam um tabuleiro de xadrez.
Talvez Basílio Pirro não pode perceber que na sua humildade silente aquela capelinha já pode prever que rasgando os céus daquele Aracaju surgiria a Igreja do Santo Antônio; e dali, como em vôo de águia, aquela nova igreja, silente e impávida veria o tabuleiro avassaladoramente engolir mangues e dunas, superando o seu sonho.
Fugindo a toda convencionalidade a cidade, planejada especialmente para ser a sede do Governo do Estado, cresce por onde pode e, não obstante as seqüelas dessa expansão que foge a esquemas, manifesta o que o Fernando Porto, chamaria de “uma das mais felizes vitórias da Geografia”. A historia pode superar até mesmo os sonhos de homens do quilate do engenheiro Sebastião José Basílio Pirro, mas, foi o olhar futurístico dele que deu margem à ousadia da historia.
D’outra parte, quem atiçaria a arte de Basílio Pirro? Felte Bezerra, outro grande pesquisador sergipano, no seu estudo “Etnias Sergipanas” debulha os fatores que colaboraram para que o açúcar se tornasse, produto básico da província e se fosse o pivô da mudança da capital de São Cristóvão para Aracaju.
Uma cidade provida de um porto seria fundamental para o crescimento de Sergipe del Rey. E no coração de Inácio Barbosa, este motivo bastaria como alavanca para tal empreitada. Assim que, partir de 1854, Inácio Barbosa começou a colocar em prática seu plano de mudar a capital de Sergipe. Transferiu órgãos públicos para a praia do Aracaju (prainha do Bairro Industrial), perto da foz do Rio Sergipe, já visando o surgimento do porto. Eles justificava: “Sergipe é uma província pequena e pobre, não se pode dar ao luxo de gozar de uma capital e um porto marítimo, separadamente”.
A idéia de transformar em capital um povoado cheio de areais e de brejos não agradava a todos; mesmo assim o projeto foi aprovado e sancionado no dia 17 de março de 1855, há exatamente 150 anos, constituindo um dos atos de maior repercussão na vida sergipana, considerado na época, e ainda hoje, um ato de grande coragem e tenacidade por parte desse grande homem de governo chamado Inácio Barbosa.
Este Cajueiro testemunhou, desde os seus primórdios, a presença ativa desses homens, membros do Povo de Deus. Os umbrais de Santo Antônio e da Imaculada Conceição testemunharam - e testemunha hoje - a preocupação de homens e mulheres em construir uma cidade dos homens que flui,como as águas do rio Sergipe, em direção à Cidade de Deus. Com este afã o nosso saudoso Monsenhor Olímpio Campos dedicou a sua voz e a sua pena, perseguindo o progresso para a cidade e para os seus cidadãos, dando esplendor a já então reconhecida preocupação da Igreja pelo bem do seu rebanho. Muitas outras contribuições os filhos e filhas da Igreja deram para a consolidação desse sonho.
Olhando a historia recente da nossa cidade podemos perguntar: Como Dom José Tomas, primeiro bispo desta arquidiocese, traduzia em vida o seu amor e devoção ao Sagrado Coração de Jesus, à Eucaristia e ao clero? Porque Dom Fernando Gomes, fez-se ponte entre a Igreja e o Regime de 64? O que impulsionou dom José Vicente Távora, nosso saudoso predecessor, que descansa aqui nessa catedral[5], a fazer de Aracaju, de Sergipe, um forte pólo de difusão do Movimento de Educação de Base, areópago do método paulofreiriano de educação e conscientização? O que o levaria a fazer de Aracaju a vanguarda na defesa dos direitos humanos nos anos difíceis do pos-64? Na PROCASE (Promoção do Homem do Campo de Sergipe), na Faculdade Católica, semente da nossa Universidade Federal; obras políticas da genial mente de Dom Luciano Cabral quais eram os mais profundos objetivos?[6] Pensemos às gerações amamentadas no seio do saber dos nossos colégios Arquidiocesano, São salvador, Salesiano,... pensemos à vida de homens como Padre Pedro, Padre Melo, Frei Miguel, Irmã Valdelice,... façamos reverencia a tantos e tantas que doaram as suas vidas pela causa do Reino em terras aracajuanas.
Deixando de lados os nossos prelados, pensemos aos nossos grandes leigos de ontem e de hoje[7], que fazem de suas vidas uma pagina viva do Evangelho, certos de que a missão de humanizar este Tabuleiro de Xadrez é de todos e de cada um. Com as suas vidas eles fazem ecoar aquele trecho do Evangelho de hoje: “... sabei que o Reino de Deus chegou”. Tantos Inácios, Olimpios, Pedros, Josés e Marias todos olhando para Aracaju, daqui ou desde a eternidade, e vislumbrando o seu devir. Mas, meus irmãos e irmãs, lembremo-nos os sonhos partem do real; e a construção desta nova realidade hoje, nesta celebração vem iluminada pelos sábios e santos conselhos do autor da Carta aos Hebreus. Somente a perseverança no amor fraterno, que inclui a hospitalidade, solidariedade e o desinteresse poderá fazer afloram na nossa cidade o seu verdadeiro devir: lugar de homens, polis que revela com a sua humanização o rosto de Cristo ao homem com fome de Deus e de Justiça.
Havendo presente na nossa mente o autor sagrado, recordemo-nos dos que deram a vida pelos ideais do bem comum nesta cidade, por “Jesus no outro”; acreditando na possibilidade do nascimento da civilização do Amor. Por cima daqueles que passaram e de nós que passaremos Jesus Cristo abarca a todas as idades, é contemporâneo de todos, não muda. A ele confiamos as nossas mais profundos votos de que possa ser escrito no coração da nossa cidade a palavra homem em grande, a saber: Cristo, Senhor do tempo e da Historia, o mesmo ontem, hoje e sempre. Seja Louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!



[1] Cf. Lc 9, 1-6.
[2] 72 em alguns escritos.
[3] Segundo Gn 10.
[4] Cf. Nm 11, 16-30.
[5] Pode se indicar para a assembleia o lugar onde jaz dom Vicente, a saber, diante do altar maior da Catedral.
[6] Podeem ser elencadas aqui, outras açoes mais atuais.
[7] Augusto Franco, Manuel Cruz,...

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Fonte da base histórica: FREIRE, Gilberto, Nordeste, Global, 2000.
http://www.infonet.com.br/cinformmunicipios/municipio_aracaju.htm

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