02 novembre, 2013

Chat 6: Da fábula à tragédia: histórias iniciadas ou concluídas numa chat

7) Da fábula à tragédia: histórias iniciadas ou concluídas numa chat
   
   Espero concluir hoje, com um pequena apêndice, este percurso introdutório sobre o mundo das chats. Coletei algumas histórias que foram-me confidenciadas outras que se tornaram públicas nos meios de comunicação de massa. Sem que temos muitos "arrodeios", vamos aos fatos.
  A primeira vez que fiquei sabendo da possibilidade de "arranjar-se" na internet foi no ano de 2003, em Roma. Tinha uma amiga, bela, solar e apaixonadíssima de seu igualmente belo namorado. Saiamos juntos de vez em quando. Íamos comer uma pizza, não raramente, jantava em sua casa. Num disse jantares, a notícias tanto esperada: nos casamos! Bonita festa, concelebrei a Missa do casamento enquanto amigo da família. Mas os laços que nós uniam era de amizade. Não me procuraram por ser padre, mas por ser amigo. Minha informalidade imprimiu a imagem do amigo de fato, sem rodeios e sem necessidade do sigilo sacramental contavam-me tudo: eu também! Confidencialmente, amigos! Um bel giorno, minha amiga me liga desesperada. Era passado somente um mês do casamento. Era radicalmente apaixonada do neo-maridinho.
  
Vamos aos fatos: condições-me para uma pizza, somente nós dois. Achei insólita a ida à pizzaria. O que teria acontecido com minha amiga? Recebeu-me com um abraço estreitíssimo; aos prantos. Brasileiramente pensei logo numa tragédia. Teria minha amiga se tornada viúva? Morreu-lhe o pai, a mãe, algum dos avós, a velha bisavô materna, o cão que tinha a venerável metade de sua idade? Pedi uma garrafa de vinho chardonet, pra quebrar o gelo. Por um instante clericalmente pensei: in vino veritas! Senti-me nojento, afinal, foi ela quem convidou-me para um diálogo. A que serviria o vinho? Desbloquear, quem? Deixei meus vícios "profissionais" de lado; abracei outra vez minha amiga. Chuchei com ela sem nem saber o por que. Dai, começou seu monólogo: 

     - Clá, fiz uma merda! Estraguei minha vida, meu casamento!
     Comecei a entender por onde ia a conversa, mas por um instante vi voa mil pensamentos dentro de meu cerebrinho. Mas ela é apaixonada! Continuou:
     - Ontem um rapaz pediu-me amizade no meu perfil profissional do msn. Não titubeei em dar, por razões óbvias! Ele pediu meu celular pois disse-me que o que deveria ser tratado exigia celeridade. Depois de vinte minutos estávamos ali: eu em meu escritório, ele, no seu, falando-me que havia errado o destino do e-mail, mas que era feliz em conhecer-me. Fale que era casada. Bem casada! Mas nem sei bem por que, senti-me atraída por tudo aquilo e,... Pra encurtar a história. Passadas duas horas, na pausa para o almoço, estávamos, ele e eu, num hotel, transando. Quando terminou tudo - que não durou nem uma hora - vi-me ao lado de uma pessoa que se revestia e contava sua satisfação e seu desejo de reencontrar-me. Tive medo! Medo de mim mesma, daquela reação irracional,... Senti-me a criatura mais asquerosa do mundo. Pensei em meu marido, em quanto o amo,... E, eis-me aqui, contigo! Não quero entrar em casa antes de entender o que aconteceu comigo. Quem melhor do que você, para desdramatizar meu drama? 
     Tive medo em decepcioná-la! Estava mais chocado do que ela! Era incopreesivel? Não lhe faltava nada: afeto, sexo, diálogo,... Eram apaixonados! Fiquei em silêncio! Ela chorava e voltava-me seu olhar como quem contemplava uma irmão. Senti-me amado; profundamente amado! Chovei pensando que poderia ter acontecido com uma de minhas irmãs. Pensei no choro arrependido de São Pedro após dar-se conta de ter renegado Jesus. Fiz-lhe três pedidos: quero o chip do celular, seu número e quero que você fique serena. Não é o fim do mundo! 
     
Liguei pro aproveitador, apresentei-me como sacerdote e amigo de sua vítima. Falei que queria encontrá-lo. Diante de sua recusa. Prometi que se ele ousasse lugar somente uma outra vez, retornando a casa encontraria a mim e ao meu amigo, seu marido, esperando-o, pra falar de homem para homem. Ele, silente, tentou dividir pela metade sua responsabilidade. Terminei dizendo: 
     - você não irá encontrar com um padre e um esposo, mas, com dois homens, entendido. 
     Dei meu número de celular, a paroquia onde eu morava. E disse que esperava sua visita. Ele nunca apareceu! Passado um tempo, sugeri que ela contasse para seu marido. Eu o conhecia e sabia o quão profunda era sua humanidade. Felizmente, não me equivocava. Houve perdão, e vivem felizes, ainda hoje. De vez em quando, após uma briguinha de casal, a coisa torna à tona. Mas, é o preço da ferida criada. O preço da sinceridade. Ainda hoje pergunto-me: como foi possível?
     Um segundo caso. Brasileiríssimos! Ocorrido no interior de Sã Paulo. Era o tempo do finado Orkut. Uma adolescente de classe média conhece um rapaz, uns anos mais velho do que ela. Travam semanas de diálogo. Juras, promessas, fantasias. Romanticamente fazem promessas de amor. Ele esteticamente gato, ela, um pouco menos; gordinha, com qualquer complexo análogo aos seus quilinhos pôs-adolescencial a mais. 
     Num dia daqueles, antes mesmo que completassem um mês de paquera virtual, a menina desaparece "no nada". Desaparece um dos carros da família. Tudo vai parar, nas monopolizadas mãos do "Jornal Nacional", na Globo. Partem os avisos de "procura-se Susan desesperadamente". Passa um dia e o noticiário televisivo começa a seguir as "impressões" deixadas pela garota. Primeiro, na Bahia; depois, em Pernambuco,... E aparecem os sinais das cartas de crédito usadas aqui e acolá. Depois de uns dias a polícia localiza a guria, com seu comparsa e amante, em um hotel de Fortaleza. Após alguns dias, a notícia: se conheceram e traçaram o projeto romeujulietiano de viver uma aventura amorosa, a qualquer custo. Depois dessa notícia, soube-se pouco dos dois. Terão permanecido juntos? Superaram as barreiras familiares, a diferença social e de idade? Mas, sabe-se somente de uma coisa: tudo nasceu na Rede. E: o sonho da gordinha que encontrava o príncipe encantado; lindo, alto, malhado, muito provavelmente terminou ali, bem onde tinha iniciado, na fantasia que durou quando pode ter durado um start.
  
  Outro caso, que presencie em primeira pessoa. Acontecido no Alto Lácio, na Itália. Desta vez, a isca foi posta no Facebook. Um amigo conheceu uma garota que residia a uns 700 km de distancia de sua casa. Mais jovem do que ele, muito bonita, meiga, atenciosa, culta. Começaram o namoro virtual, sem que ele tivesse a precaução de pedir outras fotos ou de vê-la na webcam. Durou um mês. Um dia decidiram encontrarem-se. Ela viria a Roma. Ele, como um gentleman decidiu que iria ao seu encontro, estaria juntos uma noite e depois a acompanharia a Roma, para um tour romântico. Chegando no norte da Itália, deu de cara com uma outra pessoa. Entendamos-nos: era a mesma, só que uns 8 anos mais velha, mais gorda (nada contra @s gorod@s! Como diz o velho adágio: entre gustos e colores,...muchos hay. A garota tinha distúrbio bi-polar, uma voz, sui generis, filha única, economicamente dependente dos pais,... Amigo ficou sem saber como gerenciar a situação. Ligou-me contanto o episódio e pedindo conselhos. Pensei a Ronaldo Fenômeno e a tudo o que havia sucedido a ele. Falei pro meu amigo: paciência! Eu sendo você, provaria a reverter o quadro. Com atenção, afeto e cumplicidade, muita coisa pode ser transformada, seja em nós, seja nas pessoas que nos rodeiam. Além do mais nem sempre o prêt-a-portée cai-nos ao corpo como a luva em uma mão. Meu amigo não deixou-se convencer. Engessou-se e foi logo dizendo:
     - Tesouro, a o amor à primeira vista não aconteceu. Entre eu e você,...só amizade! 
     Resumindo: a guria não deu paz pro meu brother. Tem insistido e, ainda hoje se encontram. Ele mais por compaixão; ela, na certeza que ele se dobrará. Veio-me em mente aquela passagem evangélica na qual Jesus fala da viúva insistente que consequências extrai a justiça das mãos de um juiz injusto, por força de "encher-lhe o s,...". 
     Um último caso - mas poderia contar-lhes inúmeros - televisivo. Um jovem conheceu uma menina encantadora e, como dizem alguns,... Muito "liberal". Ele não pensou duas vezes. Tocou fotos, marcou um encontro é,...chegando o dia, conheceu a linda mulher que era de uma "quentura" única, como ele contava. Deram-se uns amassos no carro, jantaram num restaurante e, depois decidiram continuar a que havia iniciado antes da janta num praia, não muito distante dali. Meu amigo nem acreditava ao que lhe estava acontecendo. Chegando à praia, antes mesmo que transcorresse uma meia hora, dois homens anunciar-lhe um assalto. Entram no carro com a ajuda da garota que ia revelando-se cúmplice de um golpe; amordaçam-no. Estranhamente, curram-no sob o olhar impávido da garota. Consumado aquele ato insólito. Vão a um caixa eletrônico, prelevam dinheiro; passam num shopping center, fazem compras com o cartão de crédito da incrédulo rapaz. Feita a festa, lá pra meia-noite, decidem abandoná-lo numa estrada semi-deserta, não antes de envolver seu rosto numa toalha embebida de álcool e atearem fogo. Nem eu mesmo quis acreditar naquele que ouvia! Crueldade encima de crueldade. Ódio de estrangeiros, xenofobia na direção contrária. Fiquei estarrecido ao ouvir a tragédia do rapaz que com o rosto desfigurado, insistia que o melhor modo de conhecer uma pessoa era aquele real, sem pressa.
     Então! Tanto no mundo real quanto no mundo virtual, toda prudência é pouca, todo juízo é convidado a ser fruto de ponderação. Tenho amigos que encontraram os amores de suas vidas em chat; outros que tiveram aventuras fantásticas graças às salas de bate-papo. 
    Relendo os conselhos que ousei-me dar, acho que se pode aprender a usufruir melhor deste grande recurso dos dias de hoje. Usá-lo com sabedoria pois do outro lado da Rede tem um noutro mundo; o mundo de um outro ser, a ser descoberto, a ser respeitado. Insisto em apontar para as bondardes dos tempos de hoje, mas sem a ingenuidade de um adolescente que possa pensar ser onipotente somente por poder edificar pontes, ou construir castelos fictícios. Prudência, respeito, transparência são alguns dos ingredientes necessários para quem quer enveredar-se no emaranhado mundo das redes sociais.
     Quando eu era adolescente tive a oportunidade de conhecer algumas garotas: bonitinhas e simpáticas, novinhas e apressadas, experientes, quentes. Conheci uma que usava aquelas calcinhas com enchimento pra ter um pouquinho de bunda, outra que queria amarrar-me buscando uma gravidez, uma mãe solteira sem pudores, uma guria cheia de "nove horas",... Por isso entendo que na Rede somos passíveis de encontrar "de um tudo", como diria minha mãe! Assim, a coisa melhor é não ter pressa e ver o outro como realmente é: outro; um mundo em si. Nunca minta, seja cortês e, se descobres que o "barco é furado", com muita cortesia, diga, nosso caminho, juntos termina aqui. Se for o caso, fale de suas perplexidades e,... Tchau e benção!
     Particularmente, prefiro usar a Rede para consolidar amizades já iniciadas; para encurtar as distâncias dos amigos que vamos deixando pelo caminho de nossas vidas. Mas, como acho que tem sido claro: penso que cada cabeça é um mundo! Assim, veio-me em mente estas dicas para que, conhecendo os recursos da Rede, si possa aprender a usá-los sem ferir nem ser ferido.

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