Mais uma vez, o sol faz-se valer, após um interminável inverno e nós, vamos lá, saboreando sem pensar, as graças de uma jornada primaveril. O que mais espanta e ainda ter que cobrir-se como se fossemos em pleno inverno. Andar de moto, neste período, só sendo assim, coberto dos pés à cabeça. Bem nesta Itália de meu Deus, a primeira parada, após percorrer qualquer quilometro e ainda não abandonar a Urbe, para num semáforo e das mãos de um asiático ou de um africano saariano, compro o jornal. Com um euro e cinquenta se leva à praia o jornal só sábado, com mais de 40 paginas recheada de noticias - e de futilidades - e o encarte semanal: revista de 180 páginas, papel de grande qualidade, uma revista de variedades. Parece até mentira a possibilidade de comprar tanta informação tão baixo custo. O motivo é simples, o mercado editorial recebe subversão estatal.
Enquanto dirigia-me ao mar, pedindo a Deus que na praia não ventasse muito, pensei naqueles vendedores de jornal; em quanto ganhariam para vender cada exemplar. Em minhas contas, uma mixaria, uma miséria. Praia quase vazia, uma bocas famílias, alguns pescadores, cães correndo na areia ou banhando-se no mar; sol e vento amenos, água gélida, qualquer avião e helicóptero sobrevoando o céu... Perfeito dia primaveril de mar.
Outra coisa que me faz pensar é a superação do preconceito de levar lago para lanchar. Como presunto pequeno burguês - ao menos mentalmente - sempre julguei muito popular o ato de levar bolsas, tapawers e sacolinhas varias contendo os avanços do dia anterior, as frutas ao limite da validade, o "sanduíchezinho",... Pobre e limitada mentalidade pequeno-burguesa! Quando é que entrará na moda economizar?
Bem, a praia me inspira algumas coisas: caminhar, fazer exercícios físicos na beira do mar; e, a melhor de todas as inspirações: ler. Dai o jornal, dai a revista, dai o I-pad. Já não posso fazer a menos de mostrar aos amigos, companheiros de praia, a notícia da ultima hora, aquela coisa que li e tanto me marcou, aquela imagem radicalmente expressiva.
Bem, depois de caminhar, fazer exercícios na beira do mar, debruço-me na areia formada de grãos não tão pequeninos de rochas negras e abro o jornal. O editorial do jornal "de direita" preanuncia os temas principais. Política, novo-governo, política, costume e sociedade, novo-governo, política. O italiano respira política. Mesmo quando não emerge o sentido critico, sabem o que acontece, reproduzem as opiniões dos telejornais e, por vezes, sabem "dizer a sua" sobre a crítica e mutável situação atual. Um ministro negro - o primeiro caso na inteira historia nacional -, um governo fragilmente coligado, audazes temas na agenda governativa - ius solis, direitos homossexuais, reforma do sistema eleitoral, plano para a superação da crise econômica assustadora,... E haja paginas nas revistas e nos jornais pra especular sobre estes temas! Lendo tais temas e olhando ao meu redor tudo aparenta ser tão virtual! Virtual o mundo em que vivo; virtual a situação descrita, virtual o mundo real. E è assim! A Itália traz dentro de si tanta história, tanta força que abrindo os olhos - ou fechando-os - abrindo um jornal - ou fechando-o - ao viajar no passado e no presente, com seus monumentos arqueológicos milenares ali, naquela praia, tão diante de mim, tudo parece tão efêmero, inclusive as minhas e as opiniões alheias. Mesmo quando gritando aos céus, diante da magnificência de Roma, a história presente, mesmo quando pungente, torna-se virtual. Vencerá o bom senso, a consciência histórica - com sua divida histórico-social pra com as minorias que construíram um Império -; ao fim, somente o bom senso poderá devolver o esplendor de sempre de uma civilização que ainda hoje se permite "impartire" desde si, uma benção Urbi et Orbi.
Nessun commento:
Posta un commento