Redigir um trabalho acadêmico e científico não é um passeio. Pode
ser prazeroso, mas este prazer, paradoxalmente é exigente árduo e que requer a perseguição de um método.
Felix Pastor, SI |
Um dos meus velhos mestres, o jesuíta Felix Pastor cunhou uma frase
acalentadora sobre o estressante dia da apresentação de um trabalho acadêmico –
referia-se à defesa do doutorado – e que compendia o clima que clausura do
tempo de construção científica: una
hora de humillación, para uma eternidad de gloria. O
que estava querendo dizer, aquele velho sábio ibérico, era que até o último
instante – o da apresentação de uma tese – somos convidados a aprender com os
que nos guiam pelas veredas da pesquisa científica. Eles estão lá, naquele
marco acadêmico, para ensinar-nos que outras vias são possíveis, que é muito
mais o que se tem que aprender do que o que se tem para ensinar.
Dario Antiseri |
Ao fim de uma etapa acadêmica, resolvi coletar algumas pérolas do
meu iter, esperando que possa servir
a alguém, visto que servirá, antes de mais nada, a mim, pois no mundo da
pesquisa acadêmica, cada linha de chegada é também um marco de partida; o que
nos motiva sempre a olhar além dos pontuais momentos de desanimo, desespero,
euforia, serenidade,... Certa vez li os agradecimentos
de uma tese doutoral. Em duas páginas o gilbertofreyreano doutor buscou
compendia a lista de fatos e de pessoas que fizeram parte daquela etapa de sua
vida. Agradecimento à ex-esposa – o divórcio deu-se naquele período de
elaboração da tese – amigos desaparecidos, novos caminhantes, companheiros,
naquele seu sentiero, inúmeros Simão
Cirineu,... como dizia Agostinho de Hipona, tempus
fugit! Assim que é necessário vivê-lo, consumá-lo ainda melhor pois, uma
outro verdade, igualmente pragmática, assalta a este tempo: time is money! Assim, viver bem, gastar
bem e poupá-lo, melhor ainda é a dica mestra. Vejamos outras.
Phn! (por hoje não): vi uma vez esta
frase numa camisa e achei genial. A frase se referia àquele propósito de vida
diante dos assaltos quotidianos do Tentador. E a sua tentação era o prazerosa
fascínio do pecado mirado desde a perspectiva cristã. O que vale para o
fascínio do pecado, pode ser bem aplicado ao fascínio daquelas coisas que
desnorteiam-nos, que desordenam a bussola de quem tem prazos e etapas a serem
superadas na consecução de uma tarefa acadêmica. Assim que, se você quer ser
fiel ao projeto Phn, melhor
estabelecer horários para checar e-mails, para relaxar escutando amigos no Face, no Skype, descarregar filmes, vídeos do youtube. Organize seu tempo! A sabedoria do Povo de Israel já
ensinava, há muito tempo atrás: há um
tempo pra cada coisa! Programe-se! Pois o trabalho de uma semana não pode
ser executado em uma noite! A quem, nunca ocorreu de ter que repassar os temas de uma prova, de um
exame, na noite anterior? Ai o Tentar chega e diz: traspaçei, descarregue algo
do Wikipédia, copie, cole, pergunte a
quem está do teu lado,... Trapaças à parte, diante de um texto escrito, de uma
prova oral, quem sabe, sabe; quem não sabe,...Nem adianta dizer valha-me Deus! Metas diárias, semanais,
mensais, policie-se! E, enfim, quando tiverdes um bloqueio criativo, escreva o
que lhe vem em mente, deixe-o repousar; ou: escreva o que vem à mente pois
perceberás que uma ideia puxa a outra – como nas conversas de comadre – e quando menos perceber,... terás diante de
ti um texto fluindo naturalmente.
To be, or not to be, that
is the question. Este solilóquio shakespeareano
pode ser lido em muitos modos, eu o leio assim: o que sou, o que quero, de onde
vim, para onde vou; ou, em metodológicas palavras: projeto! É necessário ter um
projeto antes de iniciar um empresa. Concedam-me uma imagem vulgar, mas muito
plástica: provavelmente, a porra louca não fecundará o óvulo fértil.
Plasticidades e vulgaridades à parte, se você tem em mente um destino, é
necessário traçar a rota. Não tenha medo de perder
tempo projetando, pois um bom projeto corresponde a 40% do trabalho a ser
realizado. Importante, neste sentido elaborar uma boa introdução e às
conclusões prévias. Após a pesquisa, poderás revê-las e reelaborá-las, mas,
sabendo de onde você quis partir. A conclusão não pode, não é a última parte de
um projeto acadêmico. Ela entra como conclusão definitiva quando for analisadas
as hipóteses ou as perguntas de base; e, os objetivos. Mas, é importante que
existam, na mente e no papel, ao menos de forma embrionária. É tão importante
que, na redação de todo o texto, na discussão dos resultados, a definição das
conclusões de sua pesquisa, pode ser de grande auxílio.
Ex nihilo nihil fit. No seu De rerum natura o
poeta e filosofo latino Lucrezio afirma: Principium
cuius hinc nobis exordia sumet, nullam rem e nihilo gigni divinitus umquam (I,
149-150), literalmente: o seu fundamento
terá, para nós, seu início disso: que jamais nada si gera do nada por vontade
divina. Salvando a liberdades da tradução brasílica do texto, emerge um
conselho: tuas ideias não nascerão do nada; ou, como diria outro velho mestre,
o Professor Dario Antiseri, nossa mente é cheia de preconceitos – colham o
sentido etimológico da palavra – e sem eles não temos de onde partir. Assim, na
elaboração de uma tese, artigo, monografia, leia o que foi produzido
precedentemente sobre o autor ou o teu tema de interesse. Vai servir para
melhor entender e, logo, situar, o teu autor ou o tema a que ti dedicas, e ti
dará o conforto no momento do confronto permitindo ter mais domínio da questão
estudada.
Matéria e forma. Aristóteles, muito
antes de nós, já sentenciara que toda substancia é composta, a modo di synolon – junto e inseparável – tem
matéria e forma. Dessa alusão aristotélica concluímos que é muito importante
das uma forma à matéria para que seja apresentada como lago substancial; em
palavras pobres: viva a ABNT! Nunca deixe para formatar teu texto ao final. A forma da material é importante e,
alem da cientificidade, revela a personalidade de quem elaborou um trabalho.
Aprenda-a previamente e aplique-a na medida em que fores dando forma à matéria
produzida. Eduque seu asno computador, desde das primeiras batinas do teclado.
Sempre digo para os íntimos: o computador é uma maquina estúpida que fica
viciada muito facilmente. Que o vício de seu pc si torne, para você, um virtude. Eduque-o!
Cogito ergo sum. A locução cartesiana –
aparecida no Principia philosophiae
1,7, 10, 1644 – exprime a certeza indubitável que o ser humano tem de si
enquanto sujeito pensante. Cientificamente, porem, exclui o famoso pour parler (cfr. Assunto que tratei num
post, neste blog), o achismo muito do gosto de nós latinos.
Outro dia um amigo de Face escreveu
uma MSN louvando a monarquia
tupiniquim apresentando-a como coisa boa e justa. Pensei: Ecco! Parler pour-parler!
Pensei ao meu colega Laurentino Gomes – o dos 1808, 1822, 1889 – e pensei que
se meu amigo de Face tivesse lido ao
menos uma parte da trilogia, andaria imediatamente a cancelar seu ideológico post. No mundo acadêmico a coisa é muito
mais séria: se não sabes o que dizes, melhor ao dizer! Evite generalidades, comadrismos, servem prum papo de mesa de bar, pra
matar o tempo, mas não constrói ciência, nem edifica nenhum cientista.
Sejamos sérios: uma afirmação, se não faz parte do limbo dos nossos prejuízos,
dos preconceitos, tem que ser respaldada por dados. Conto outra e termino esta
parte: certa vez, conversando com um superior na hierarquia eclesiástica que
exigia-me reverente submissão, argumentei citando uma autoridade, um grande
santo; ao que, meu superior replicou: como santo fulano morreu sem dizer tudo,
eu acrescento,... tive vontade de rir pois a frase nova; mas, não vos revelo de
quem fosse. Enquanto escrevo estas linhas, vem-me me mente aquela famosa frase
de Montesquieu: a tirania de um príncipe,
num oligarca, não é perigosa par ao bem comum quanto possa ser a apatia de um
cidadão numa democracia.tirem suas conclusões do desfecho da conversa
descrita acima; e do conselho que pode ser colhido os que pretender ter algo
para ensinar e alguma coisa para construir now.
Dê suporte ao que você pensa, pois como a autoridade precisa ser coroada pela
virtude; a cientificidade necessita da autoridade que você busca, mas que ainda
não tem . Cogito ergo sum!
A semana que vem espero concluir este post e retomar aquele outro: “l’occasione fa l’uomo ladro?”
La
settimana prossima spero poter riprendere il testo inconcluso - “l’occasione fa l’uomo ladro? – e concludere questo qua.
A presto, guys and girls!