29 agosto, 2013

Dante, Llosa, Freyre mandando pro quinto do inferno

Pro quinto do inferno

  
      Seria o "V do inferno", da Divina Commedia, de Dante, povoado pelos personagens da "Guerra do fim do mundo, de Vargas Llosa? No quinto canto do Inferno estavam, segundo Dante, os amantes da luxuria: "Quando giungon davanti a la ruina,/quivi le strida, il compianto, il lamento; /bestemmian quivi la virtù divina. / Intesi ch’a così fatto tormento /enno dannati i peccator carnali, /che la ragion sommettono al talento" (Dante Alighieri, Divina Commedia, Inferno, Canto V, 34-39).
      De fato, aquela obra, a llosaneana está impregnada de estupros e violências sexuais de todo tipo; desejo incontinente de realização do que mais parece ser a condição animalesca daqueles homens que foram viver em Canudos e, ainda mais, dos que foram ali para combater a nova - e ao mesmo tempo velha e, num certo sentido, obsoleta - visão de mundo perpetrada por Antônio Conselheiro.
     Mas Dante não só canta a danação dos danados pela luxuria mas, também, a potência incansável do amor, capaz de vencer a barreira da morte e nao somente aquele amor, diremos hoje, romeojulietiano, que tudo vence pois para tais amantes o que conta, romanticamente, é que somente " a morte nos separe". Assim, a continuação do canto danteano faz ainda mais forte: "Amor, ch’a nullo amato amar perdona, /mi prese del costui piacer sì forte,  che, come vedi, ancor non m’abbandona. /Amor condusse noi ad una morte: /Caina attende chi a vita ci spense»"  (Inferno, Canto V, 103-107).
     A longa versão de Os Sertões, de 1981, do escritor e premio nobel peruano Mario Vargas Llosa, parece ratificar quanto Gilberto Freyre defendia; isto é, que a combinação de raças, o calor e o suor do trópico, findou com fomentar a promiscuidade sexual que se difundiu no Brasil Colonial. Se faltou a Freyre - como muitos o pensam - o sentido crítico da subjugação do homem e escravo africano e indígena pelo homem europeu, fato é que, para Llosa, subjugados ou não, antes do advento da televisão e das mulheres com suas "dores de cabeça" ante a solicitação sexual de seus parceiros ou maridos, eram as "ousadias" as maiores distrações do sertão baiano. Basta com reler as páginas seguintes.
     "Sim, para alguém que acreditava que o destino era em boa parte inato e ia escrito sobre a massa encefálica, onde umas mãos mãos direitas e uns olhos pesados podiam auscultá-lo, era duro comprovar a existência dessa margem imprevisível, que outros seres podiam dirigir com horrível prescindência da vontade própria, da aptidão pessoal. Quanto tempo levava descansando? A fadiga tinha desaparecido, em todo caso. Teria desaparecido também a moça? Teria ido pedir auxílio, a procurar gente que viesse a prendê-lo? Pensou ou sonhou: «Os planos se fizeram fumaça quando deviam materializar-se». Pensou ou sonhou: «A adversidade é plural». Advertiu que se mentia; não era verdade que este desassossego e este pasmo se devessem a não ter encontrado ao Rufino, a ter estado a ponto de morrer, a ter matado a esses dois homens, ao roubo das armas que ia levar à Canudos. Era esse arrebatamento brusco, incompreensível, incontrolável, que o fez violar a Jurema depois de dez anos de não tocar em uma mulher, o que roía a dorme-vela de Galileo Gall"
(Das reflexões do jornalista estrangeiro Galileo Gall. Mario Vargas Llosa, A guerra do fim do mundo, R.B.A Projetos Editoriais S.A, p. 68).
     "No dia seguinte, quando os dois jornalistas despertam — é a alvorada e há quiquiriquís — lhes fazem saber que Moreira César já partiu, pois houve um incidente na vanguarda: três soldados violaram uma moça. Partem no ato, com uma companhia em que vai o Coronel Tamarindo. Quando alcançam à cabeça da Expedição, os violadores estão sendo açoitados, um ao lado do outro, sujeitos a troncos de árvores. A gente ruge com cada chicotada; outro parece rezar e o terceiro mantém um gesto arrogante enquanto suas costas avermelha arrebenta em sanguel" (A guerra do fim do mundo, 148).
 Segue, a descrição da punição de um 'pedera ' - como vêm nomeados os homossexuais lá no sertão da Paraíba. Mas, vista a configuração do problema nos dias atuais, é justo acenar a quanto diz a legislação e distinguir entre homossexualidade de pedofilia. Distinguir e separar. Não necessariamente todo pedófilo é homossexual, não necessariamente todo homosexual é pedófilo. Clarificada e pontuada a questão, andemos ao texto:
   "Os soldados da companhia estão aguardando-o; os castigos são sempre muito concorridos pois é um dos poucos entretenimentos do Batalhão. O soldado Queluz, já preparado, tem as costas nua, entre uma ronda de soldados que lhe fazem brincadeiras. Ele lhes responde rindo. Ao chegar os dois oficiais todos ficam sérios e Pires Ferreira vê, nos olhos do castigado, um súbito temor, que dissimula tratando de conservar a expressão zombadora e indócil.
—Trinta varas—lê, na parte do dia—. ão muitas. Quem lhe castigou?—O Coronel Joaquim Manuel de Medeiros, sua senhoria—murmura Queluz. —O que fez?—pergunta Pires Ferreira. Está calçando a luva de couro, para que a esfregação das varas não lhe arrebente as ampolas. Queluz pestaneja, incômodo, olhando com a extremidade do olho a direita e a esquerda. Brotam risadas, murmúrios.—Nada, sua senhoria—diz, engasgado. Pires Ferreira interroga com os olhos centena de soldados que formam o círculo. 
—Quis violar a um corneta do Quinto Regimento —diz o Tenente Pinto Souza,com desgosto—. Um cabra que não cumpriu quinze anos. Surpreendeu-o o próprio Coronel. É um degenerado, Queluz. —Não é certo, sua senhoria, não é certo—diz o soldado, negando com a cabeça—. O Coronel interpretou mal minhas intenções. Estávamos nos banhando no rio sadiamente. Juro. —E por isso ficou a pedir auxílio o corneta?—diz Pinto Souza—. Não seja cínico. —É que o corneta também interpretou mal minhas intenções, sua senhoria—diz o soldado, muito sério. Mas como estala uma gargalhada geral, ele mesmo acaba por rir. —Mais cedo começamos, mais cedo terminamos—diz Pires Ferreira, agarrando a primeira vara, de várias que tem a seu alcance o ordenança. A prova no ar e com o movimento lhe arqueiam, que produz um assobio de enxame, a ronda de soldados retrocede—. Amarramo-o, ou agüenta como bravo? —Como bravo, sua senhoria—diz o soldado Queluz, empalidecendo. —Como bravo que se atira aos cornetas—esclarece alguém e há outra salva de risadas"  (A guerra do fim do mundo, p. 253).
     Enfim, dentre as inúmeras referencias aos prazeres da carne em A Guerra do fim do mundo, colho esta, extraída dos diálogos entre o Barão de Canabrava, proprietário das terras de Canudos, um tal Gumucio, e outro fazendeiro daquela zona, oCoronel Marau, que bem revela o ponto de vista do autor sobre as ousadias do sexo. Discutindo sobre as capacidades do jornalista estrangeiro Galileo Gall, dizem:
     "Confunde a realidade e as ilusões, não sabe onde termina uma e começa a outra —disse—. Pode ser que conte essas coisas com sinceridade e acredita-as ao pé da letra. Não importa. Porque ele não as vê com os olhos a não ser com as idéias, com as crenças. Não recordam o que diz de Canudos, dos jagunços? Deve ser o mesmo com o resto. É possível que uma briga de rufiões em Barcelona, ou uma jogada à rede de contrabandistas pela polícia de Marselha, sejam para ele batalha entre oprimidos e opressores na guerra por romper as cadeias da humanidade.
—E o sexo?—disse José Bernardo Murau: estava abotagado, com os olhinhos faiscantes e a voz branda—. Esses dez anos de castidade vocês os trazem? Dez anos de castidade para entesourar energias e as descarregar na revolução?
Falava de tal modo que o Barão supôs que a qualquer momento começaria referir- se à histórias decoradas.
—E os sacerdotes?—perguntou—. Não vivem castos por amor a Deus? Gall é uma espécie de sacerdote.
—José Bernardo julga aos homens por si mesmo—brincou Gumucio, voltando-se por volta do dono da casa—. Para você seria impossível suportar dez anos de castidade.
—Impossível—lançou uma gargalhada o fazendeiro—. Não é estúpido renunciar a uma das poucas compensações que tem a vida?"  (A guerra do fim do mundo, p. 209). 
     Eita nois! Eita Deus!

28 agosto, 2013

Control+alt+del: Facebook, Twitter, responsability, security, children

Control+Alt+Del  
    
 Algum tempo atras, após ter "dado amizade no Face" a um jovem estudante de direito, ao qual sou meio aparentado comecei a acompanhá-lo. Primeiro no Facebook, depois no seu blog.
     Meu jovem amigo, num raptos de adolescência tardia, queria por se em amostra. Expunha seus pensamentos, suas alegrias e raivas, seu quotidiano acadêmico e familiar, seus pontos de vista sobre as coisas do céu, da terra, do ar, como diria Renato Russo em Eduardo e Mônica.
   Notei duas coisas: que a rapaz sabia "cutucar" seus contatos e seus leitores com temas polêmicos, de modo polemico; que muitas vezes suas opiniões revelavam o o alto grau de conflito de seus mundo - interno e externo - e se "de cara limpa" não dava pra pelejar, no mundo virtual, protegido pelo elmo que reveste os cabos de fibra ótica nos quais viajam nossas informações era possível bater e rebater, escrever, ser respondido, bater e rebater.
   A segunda coisa que notei foi que cada post seu tinha muitos comentários, quase nunca, consensuais. Num deste meu jovem amigo pôs-se a lavar pano sujo, trazendo para o público mediatico um problema familiar facilmente solúvel com um bom e velho diálogo cara a cara. Fique chocado com a forma de vingança emperrada por ele no confronto daquelas pessoas que criticavam-no à escuras. Tempos depois, o perfil do guri foi ficando obsoleto, sem novidades, desapareceu. Passou um tempo, vi-o de novo no Face, com um novo perfil, novo sobrenome, mesmo nome,...começaria de novo, renascendo no mundo virtual, escolhendo uma nova " família ", novos amigos,... Será que é realmente assim? Pode-se recomeçar de novo deixando de lado os velhos problemas? Penso próprio que não! 
   Tirei disso algumas "lições": que o nosso caro Nelson Rodrigues tinha razão quando dizia que a possibilidade da existência de segredo entre duas ou mais pessoas, normalmente, é ratificada pela possibilidade que uma delas já esteja morta. Na Rede, isso é ainda mais verdadeiro visto o emaranhado de recursos possíveis para aceder às informações alheias. Informação pública, somente para amigos, para a Igor de amigos, privada,... Se é privada, pra que ir pro Face? Por acaso Tm quem pense que o Face sirva como HD privado? As ultimas informações sobre as possíveis espionagens americanas na Rede confirmam o contrário.

Uma outra lição: se não sabes navegar no mar virtual, ou não navegue ou aprendas a nadar nestas águas pois, cada um de nós tem sempre um pensamento mais recôndito, um juízo mais agudo, uma informação mais reservada que, segundo meu parecer, ou vai conservada no coração, ou compartilhada a quatro olhos ou, responsavelmente, dita em público, com suas possíveis e inimagináveis consequências.
     Enfim: num mundo onde ovelhas e cabras partilham o mesmo pasto, onde o joio e a cizânia crescem juntos, até que mão chegue a hora da ceifa ou da separação por parte do pastor, é melhor ser mais reservado, claro e conciso. Pois de simples informações como o teu ano e local de nascimento, a cidade onde moras, teus locais preferidos, teus movimentos e pensamentos quotidianos algum lobo em pele de cordeiro podem aproximar-se, atacar-ti, devorar-ti. E, penso, é inútil dizer que não temos nada o que ocultar. O que es? Todo baú guarda tesouros; toda agenda, um programa; todo dia, um experiência nova que não necessariamente estamos dispostos a partilhar com deus e o mundo.
     A Rede não é lugar para ingênuos, penso! Eduque seu filhos ao uso da Rede, à privacidade, ao bom senso não somente na hora de agir, mas na hora de pensar, de escrever, de partilhar. Mesmo na Rede, selecione seus amigos. Isto, sim, se vc quiser partilhar sua vida. 
     Vejamos um pouco: pense e responda a estas perguntas: 
   1) se você soubesse que teu vizinho da casa ao lado ou teu professor pudesse ler o que escreveste online, escreverias as mesmas coisas e da mesma forma?
    2) Estas seguro que as fotos e as informações que publicas hoje em teu perfil do Face e do Twitter ti agradarão daqui a um ano?  
   3) Antes de "carregar", "postar" e "targar" a foto ridícula ou ofensiva de um amigo ti perguntastes se seria do teu agrado encontrar-ti na mesma situação?
    4) Verificastes se os membros dos grupos aos quais estás inscrito possam ler as tuas informações pessoais e ter acesso aos teus dados "sensíveis", como idade, sexo, gostos, etc.?
     Imaginem: 94% dos adolescentes online têm um perfil no Facebook e destes, 53% deixa disponível seu próprio e-mail; 71% indicam onde estudam; 91% colocam fotos próprias; 71%, o endereço de casa e, 20% o número de seu celular. Esta são dados recolhidos pela site estadunidense Mashable. Então, somente os adolescentes ianques estão expostos ou também nós?
    Aprendamos a usar a Rede, em casa, em família e na escola pois neste sentido, o futuro é já aqui e agora. E, em certos casos não basta "deletar" e começar tudo de novo. 
    No mundo real as teclas contol+alt+del não funcionam como funciona no mundo virtual.

Life, vida, vita, conformismo, revolution

 




A alta voz,... pensando?
     As vezes, a sociedade tenta conformar-nos, fingindo que somos mortos, apresenta-nos um caixão, rígido, tetro,...empurram-nos dentro buscando conformar-nos. Das duas uma: ou você se deforma, conformando-se, ou você se espreme, encolhe, acumula energia e,... BUM! Pede que, ao menos, façam um caixão que respeite tuas formas. Triste?
     Outra melhor: o mundo em que vivemos se assemelha a um baile em mascaras. Todo mundo sabe quem é todo mundo e finge de não saber. Dançam, se divertem, e ao fim do baile, voltam para casa, pensando que participou realmente a um baile de mascarados.
     Enfim, uma ultima: não somos nossas circunstancias; somos pessoas chamadas a serem amadas pelo que somos e não pelo que temos ou pelo que representamos. Somos desiguais no sentido que somos autênticos e é esta autenticidade que faz a diferença; rende o mundo mais colorido, as jornadas mais dinâmicas - cheias de surpresas - e cada ser humano, um constante convite à aventura, à descoberta, à tolerância, ao respeito, ao amor!
Assim, se a vida tem um segredo, ele é o de descobrimos o que somos e de abrir horizontes pois, se é verdade que somos desiguais,...no fundo,...somos muito semelhantes! 
Queremos dar e ter um colo onde pousar, queremos saber o que é amar, perdoar, encontrar, confraternizar,... 

     Queremos que esta hipócrita sociedade nos devolva nossa humanidade. E, se ela não nos devolver, nós a retomaremos na marra

     Pros meus parentes, amigos, aderentes e, infelizmente, absorventes (nao dá pra excluir ninguém, né!?).

19 agosto, 2013

Pausini, Strani amori, Renato Russo

    Strani amori

 E eu que sempre pensei que fosse uma música renatorussiana descobri que Strani amori é uma canção gravada e interpretada pela cantora italiana Laura Pausini, com a qual se classificou em 3º lugar na categoria Campioni do Festival de Sanremo, de 1994.
     A letra foi escrita por Cheope, Marco Marati e Francesco Tanini, e a música foi composta por Angelo Valsiglio e Roberto Buti.
     Strani amori foi inserida também no álbum Laura Pausini de 1995, em uma nova versão no The Best of Laura Pausini: E ritorno da te e em versão live no DVD Live 2001-2002 World Tour e nos álbuns ao vivo Live in Paris 05 e San Siro 2007.
     Amores extraños foi inserida também no álbum Lo Mejor de Laura Pausini: Volveré junto a ti em uma nova versão, em versão live no DVD Live 2001-2002 World Tour e nos álbuns ao vivo Laura Live World Tour 09 e Laura Live Gira Mundial 09.
     Em 1994 a cantora portorriquenha Olga Tañón regravou Amores extraños, que foi inserida em seu álbum Siente el amor.
     Em 1995 o cantor Renato Russo regravou Strani amori, que foi inserida em seu álbum Equilíbrio Distante. Em 2010, Laura Pausini regravou a canção mesclando-a com a versão de Renato Russo, realizando assim um dueto virtual que foi inserido no álbum em comemoração ao cantor, intitulado Duetos. 
     Pra ouvir, pensar, dançar, chorar,... Infeliz de quem nunca teve "adolescenciais" strani amori! Paz para Renato!

Verona, Arena, Pavarotti, Zeffirelli

Cem anos de lírica na Arena milenar
     


     
Este ano a cidade de Verona, no norte da Itália festeja particularmente seu mais famoso monumento: a Arena. Trata-se de um dos mais famosos anfiteatros da romanidade, ficando à sombra somente de um outro: o Colosseo, de Roma.
     A  Arena de Verona foi construída ainda no século I da era cristã, embora muito se polemize sobre a datação precisa. Tem quem diga que o período de construção vai dos séculos I a III, mas a decoração marmórea do monumento confirma que o uso de certos adereços nas esculturas presentes - como o caso de elmos com certas formas -  ligam- na ao período em que aquele tipo de adereço era mais usado; isto é, ao século I.
     Construído, como todos os anfiteatros para hospedar atividades lúdicas, o anfiteatro foi estábulo, mercado, quartel,... E somente em 1913 reconquistou seu status original, hospedando a primeira grande montagem de Aida, de Giuseppe Verdi.
     A partir dai a Arena foi sendo, cada vez mais, palco de grandes espetáculos, lugar predileto para a encenação das grandes obras-primas da lírica mundial. Hospedou ainda os grandes da música: de tenores como Pavarotti, Carreras e Plácido Domingos, ao grandes do Pop internacional como Ligabue, Madonna, só para citar alguns. 
     Este ano, o ano de seu centenário, o mais famoso anfiteatro do norte da Itália oferece uma programação invejável. Ao som lá lírica, com cenografias de grandes como o diretor cinematográfico, teatral e de opera, o senador Gian Franco Corsi Zeffirelli - o dos legendários Irmão sol, irmã lua e de Jesus de Nazaré -, que este ano levará à Arena sua monumental cenografia para Aida. Diga-se de passagem, cenografia digna de um faraó, monumental.

Praga, Chech Republic, truism, crônica, Praga, Republica Checa

A propósito de uma primeira viagem 
à República Checa



Para um homem vindo dos trópicos, confrontar-se com uma temperatura oscilando entorno a quinze graus abaixo de zero não fácil. Assim foi para mim aterrissar em Praga, capital da República Checa no mês de dezembro de 2005. "Un freddo cane", diria um italiano! Era a primeira vez que afrontava temperaturas tão baixas. Mas, era um frio seco, uma neve insistente e seca. Meu rosto pare ia congelar; minhas mãos, mesmo dentro de pesadas luvas, tornavam-se sempre mais insensíveis. Fez-me muita impressão quando, passando pelo controle alfandegário, estampou-se um belo sorrisos. Sorrisos quase ingênua e espontaneamente baiano. De fato, após perceber que tinha entre suas mãos um passaporte brasileiro, a senhora da alfândega sorriu-me enquanto dizia alguma frase em checo que concluiu com, Brazil, Brazil! Correspondi à sua simpatia e, enquanto me afastava fiquei imaginando quanto o meu passaporte possa ter nutrido a memória ou a imaginação daquela senhora: país tropical, o Cristo de braços abertos, as praias, uma aventura amorosa vivida,  o sonho de abandonar tudo e,... Quanto é potente o poder evocativo de certos símbolos!
    
Um ônibus, o metro de Praga, chegava ao centro da cidade, a neve implacável,... Caminho pelas ruas do centro com a sensação de encontrar-me em Pamplona, de inverno,... À portada de homem, Praga não tinha áreas de capital nacional; ao menos, para mim. 
     Cheguei no belo hotel, com recepcionista ítalo-falante. Um alivio. Um quarto maravilhoso, caladamente maravilhoso com seus vinte e dois graus, temperatura "ambiente" enquanto do outro lado da janela, admirava a neve que ia acumulando-se sobre os tetos, sobre as calcadas. 30, 40, 50 centímetros de neve. Percebi que meus olhos pareciam  brilhar como os daquela senhora da alfândega. A branca neve nutria minha memória de menino que assistia aos filmes americanos com neve, trenós, bonecos de neve, papai Noel,... Aquele passado era ali, diante de mim, materializado.  
    
Nos dias que sucederam, descobri que quando para de nevar a paisagem rapidamente muda, o branco da neve, dissolvendo-se, deixa uma trilha de sujeira, de neve misturada com terra, com poeira, o encanto durava quanto poderia durar a nevada. Depois, ficavam os danos: neve pra ser removida, sal pra dissolvê-lá, correntes nas rodas para que os carros sé movam,... A beleza da neve durava pouco!
     Praga tinha muitas outras belezas. As igrejas e as ruas e praças cheias de monumentos, o fabuloso relógio, as moradas de Kafka. Dei-me conta que, nunca houvera lido nenhuma obra de Frans. Se tia-me em culpa! Nos dias que permaneci por lá, pude visitar a Ponte Carlos, famoso monumento, imponente; visitei algum museu, o imponente castelo, São Venceslau, patrono nacional.
     Praga deu-me a oportunidade de assistir, pela primeira vez fui à ópera. Assisti Tosca. Seu final dramático devolvia-me a Roma. A procissão com o Corpo de Deus, o suicídio do Castel di Santangelo,... Depois de  quatro dias, era hora de voltar pra casa. Trouxe comigo a memória cheia de imagens, sons,... Meu armazém estava cheio, esperando o dia de voltar à terra de Kafka, talvez mais familiarizado com o seu mundo, depois de ter lido muito do que ele houvera escrito, descrevendo as glorias daquela grande nação.

18 agosto, 2013

Muḥammad Ḥosnī Sayyid Ibrāhīm Mubārak, comunemente conosciuto come Hosni Mubarak (arabo: محمد حسنى سيد إبراهيم مبارك, Muḥammad Ḥusni Sayyid Ibrāhīm Mubārak; Egypt, irmamdade musulmana, democracy, civil war,

Ḥosnī Mubārak e a paz no Egito
 

     Desde que derrubaram o mumificável Muḥammad Ḥosnī Sayyid Ibrāhīm Mubārak, comunemente conosciuto come Hosni Mubarak (arabo: محمد حسنى سيد إبراهيم مبارك, Muḥammad Ḥusni Sayyid Ibrāhīm Mubārak; Kafr el-Musilha, 4 maggio 1928), o Egito perdera sua aparente serenidade. Inserida numa via privilegiada entre ocidente e o Oriente, entre a África, a Ásia e a Europa, a nação egípcia foi desde seus primórdios cobiçada pelos potentes da terra; basta pensar ao tempo dos faraós e às fusões das coroas do Alto e Baixo Nilo, às lutas com os Nubianos; à estratégica paixão do Imperador romano pela prepotente e provinciana Cleopatra. No últimos séculos, à cobiça dos ingleses; e mais recentemente, à ganância dos políticos de inspiração muçulmana mais radical. 
     O Egito é estratégico desde sempre e todos sabem disso. Com Mulbarak conquistou uma aparente posição de líder árabe e de equilíbrio entre à inspiração religiosa e a necessidade de guiar-se pela pluralidade religiosa presente em seu território. Recordo-me que quando esteve nessas terras no ano de 2003 o guia local insistia em caracterizar a "fraterna colaboração" entre os lideres religiosos coptos e muçulmanos usando uma imagem tão plástica quanto falsa. Dizia: "vive-se em tamanha harmonia que muita vezes as igrejas contas e anglicanas são construídas ao lado das mesquitas e não raramente as chaves de um templo copto são custodiadas num templo do Islã". 
      Estive por lá 10 dias e nao visitamos nem um templo copto sequer. Estivemos na Mesquita Azul, mas tive que ouvir a longo uma pregação digna de um pentecostal sobre a origem, as prom essa e a doutrina do Islã. E recentemente, a destruição dos plurisseculares templos coptos bem confirmam a tese de que a precedente suportação da presença minoritária copta e anglicana, a depender da radical Irmandade Musulmana, está com seus dias contados.
     A destituição de Mulbarak rompeu o equilíbrio mantido pelos militares e abriu as portas para a manipulação da população que levou ao governo políticos inspirados na linha mais racial da configuração do Estado com as leis do Alcorão.
     Visto o fracasso, nestes últimos dias os militares tentaram reaver o poder e o resultado pelo momento é um e único: centenas de mortos com consequências não indiferentes da imagem egipciana no exterior e da redução quase que a zero do fluxo turísticos. Como se não bastasse, o caos instaurado tem facilitado o saque dos sítios arqueológicos e dos museus, empobrecendo ainda mais a sofrida terra e a cobiçada riqueza dos faraós.

14 agosto, 2013

Review-rivista-revista-journal periodico

 

A propósito de revistas

    

     De um tempo a estas partes tengo referido musito sobre o quanto realmente devemos pagar para mantermos-nos informados pois a forma da informação é carregada do peso imposto pelo comercio, pelo sucesso editorial, pelo retorno financeiro. Afinal, quem produz quer vender, pra vender, tem que divulgar, pra divulgar tem que pagar, pra pagar tem que gastar,... E ao fim acabo crendo que quem paga sou eu.
     Penso, por exemplo, aos jornais e revistas. Durante muito tempo pensei ingenuamente que a publicidade era aquela explicita, a de Dolce & Gabbana, a de Dior, a da Fiat,... Nada! É tudo publicidade; dos nomes dos jornalistas, dos entrevistados, de seus espetáculos, dos livros no prelo, daquela pesquisa i ilíada por aquela u universidade famosa - estatal ou privada -, até chegamos na política, com seus políticos em mostra, com suas políticas finalizadas a abocanhar um ninho eleitoral retrogrado ou transgressão.
    
E a propósito de governo e de empresa estatais: quando se gastas vendendo a imagem muitas vezes fictícia de um país que desmancha a ritmo avassalador. As cifras, a estes respeito, revelam que muito poderia-se fazer com o di jeito gasto na produção de uma imagem, por vezes maquiada ou completamente irreal. Vendo intervieras de atores, no melhor da historia,... estou com um espectáculo na casa tal, no teatro tal, com um livro sendo finalizado e que será editado pela editora tal,... Chega o momento em que cansamos e, deixando de lado os jornais e revistas impressos, acendemos o pc e, tá lá: vc foi fornecendo dados a cada pagina que visitou, a cada pequeníssimo questionário que respondeu e ao final, batem na tua cara aquela publicidade preparada a posta pra ti: como emagrecer em 1 mês, alguém quer ti conhecer em tal site,... 
     Não tem jeito! Ou fechamos os olhos pro mundo, ou estejamos dispostos a sermos bombardeados de informações em forma de "compre-me, afinal, você também é fim de tudo o que fazemos"! 
     Entendemos: você não, o teu tempo, o teu trabalho, o teu dinheiro. Ao fim e a cabo. Eu sou você. Eu também leio, escrevo, ouço, vejo, compro,... E assim a roda gira.