12 luglio, 2013

Italy/Italia/Viterbo/history: o viterbese



Italia 1: o viterbese

 
Minha afinidade com a Itália vem de longe. Vem do início dos anos oitenta, quando ludicamente escutava as musicas italianas que compunham o LP Rock’s & baladas

Dentro de sua escandalosa capa – ainda vigorava a censura – com um casal sentado numa moto daquelas com o guidon e com o selim altos; ele, aparentemente nu, ela, somente de calcinha; abrigavam-se perolas da musica italiana influenciada pelo estilo melódico e ao mesmo tempo transgressivo do “rapazinho bonito e provinciano de Menphis”, que com sua face doce e seus movimentos epilépticamente convulsivo seduzia o mundo. Aquele disco, que servira de marco para meus contatos com a Itália trazia o frescor irreverente de Elvis Presley e Little Richard ao lado dos consagradas vozes de Gianni Morandi, Adriano Celentano, Peppino di Capri, Emilio Pericoli, Luciano Tajoli, Il santo Califórnia,... Feras dos anos 60-70, que chegavam no Brasil nos final dos anos 70. eram muitas as músicas e todas elas ficaram cravadas em minha mente: Roberta, In ginacchio da te, Io che non vivo, Al di la,... anos depois, com a magia de youtube pude redescobrir aquela capa fascinante e aquelas músicas que marcaram minha vida.
De fato, passadas quase três décadas de quando ouvi pela primeira vez estes monstros da musica italiana, vejo-me escutando-os nostalgicamente, e pensando o quanto a vida pode surpreender-nos. Quando cheguei em Roma – mas, revelarei os detalhes desta experiência numa outra ocasião – um dos primeiros lugares que conheci foi Viterbo, cidadezinha do Alto Lazio, Capital da homônima Província. Recém chegado em Roma, como calouro nos estudos da Teologia Católica, participei de uma excussão à Città dei Papi – cidade dos Papas – visitando os maiores monumentos dos tempos áureos dessa provinciana cidade.
Viterbo, terra de Santa Rosa de Viterbo, cidade medieval, com forte marcas de seu passado etrusco, com suas tumbas, seus museus, bem que exala aquele odor nostálgico de um tempo que não volta mais e que deve ser preservado. Tempos de glórias; tempos em que os etruscos avançavam seus domínios da Toscana ao Lazio; que os romanos construíam teatros – como o de Ferrento, malmente conservado –; que os Papas fincavam residência, vinham sepultados – o Papa português está sepultado na catedral,... Viterbo vive, nostalgicamente e zelosamente, de seu glorioso passado!
Hoje sinto-me de casa – literalmente –, pois posso permitir-me dizer que conheço muito de sua história, de sua geografia, de sua gente. Acabei apaixonando-me dessa província não tão distante de Roma e a dois passos da Toscana; cheira de parreiras e oliveiras, de gente simples e hospitaleira, lugar de ralax para os amantes do mar; de lagos, como o de Bolsena; da neve e das regiões montanhosas como as da vizinha toscana onde está situado o Monte Amiata; de águas termais, dos bons vinhos como o Est! Est!! Est!!!, de Montefiascone...Viterbo é uma joia encastoada na grande coroa da romanidade.
Enfim, este canto da Itália é rica de história, de lendas e mistérios. Pelas suas florestas viveram briganti como Tiburzi, um fenômeno social semelhante em muitas coisas com o cangaço de Lampião, Maria Bonita, Dada e Corisco. Sua história privilegia-se por custodiar a origem do termo Conclave – quando a população local, após mais de um ano de espera para a escolha do novo papa causada das discórdias entre as potentes famílias romanas que disputavam o Trono de Pedro, decidiu fechas a chave os eleitores, descobriram o teto de onde se reuniam e, enfim, colocaram-lhes “dieta” –; custodia ainda a trágica história da destruição da sede do Ducado de Castro pelas tropas pontifícias; custodia, para não fugir do tema, os palazzi onde o papa Borja eternizara sua fama de Don Juan; custodia, dentre tantas outras coisas, o lugar onde se dera o Milagre Eucarístico que originou a festa e a procissão de Corpus Christi. Viterbo é assim – roubo e aplico impropriamente a feliz expressão do soneto “Língua Portuguesa”, do poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918) – a mais bela flor do Lácio.
Na verdade, pensando bem, devo dar razão a Bilac e concluir afirmando que, meu primeiro contato com a romanidade deu-se por meio de minha língua, derivada do Latim Vulgar falado no Lácio, esta “ultima flor do Lácio, inculta e bela”. Inculta pois falada originalmente por soldados, camponeses e pelas camadas populares; diferente do Latim Clássico, falado pelas classes superiores.Vale reler nosso grande poeta:

Soneto "Língua Portuguesa" de Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

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