A rebelião dos emergentes


Era, enfim, incompreensível, ao meu olhar pueril ter que mudar
de casa de ano em ano, fazendo a mudança de noite, como quem se envergonha só
deus sabe de que, carregando quase tudo nos braços – tudo é um exagero pois não
tinha-se quase nada – e confiando à força de um muar os luxos da casa: a
geladeira cônsul azul, o botijão da Brasilgás, o guarda-roupas.



Após uma década de luta e persistência em sobreviver e ascender, do
trabalho duro, do êxodo para terras prometidas distantes, depois da aposta na educação,
na instrução, a vida vai!
Vai deixando as migalhas do progresso: abandono da cadernetinha
usada para registrar a fiado pela compra em cash,
nos supermercados, poder fazer compras semanais driblando a inflação galopante
dos final dos anos da penúltima década do século passado, o êxodo dos pequenos
aglomerados urbanos para outros cada vez maiores: Iguaí, Poções, Jequié,
Aracaju,... Cidades que revelam o quanto a busca de oportunidades de crescimento
segue um movimento populacional muito característico das últimas décadas do século
passado.

Permanece, assim, o fato que: alcançado o direito de sobreviver, a satisfação
dos desejos básicos, a melhoria do país – graças ao sacrifício de muitos
brasileiros – deve proporcionar aos seus cidadãos dias melhores, ulteriores oportunidades
meritocraticas, diminuição progressiva dos privilégios aristocráticos, diminuição
da corrupção.
Não são os países emergentes como o Brasil e a China, a Turquia e
a Rússia que se rebelam contra as forças favoráveis à inércia; somos nos – João,
Pedro, Paulo, Claudio – pessoas concretas que se rebelam. Já não basta comer,
vestir. Trabalhou-se, sacrificou-se para obter estes bens básicos. Hoje
desejamos comer bem, pagando o preço justo; vestir-se com dignidade; tem um
trabalho pra poder viver dignamente e, não, viver pra trabalhar e enriquecer os
patrões; o desejo de todos é o de poder andar pelas ruas sem viver com o terror
de ser assaltado; ir à escola sabendo que o professor é motivado, com remuneração
proporcional ao seu importante papel social; deseja-se uma nação mais democrática:
liberdade, igualdade e fraternidade; ainda hoje, bandeiras revolucionarias.

Nessun commento:
Posta un commento