12 luglio, 2013

Memory/democracy/liberté/egualité/ fraternité: A rebelião dos emergentes



A rebelião dos emergentes
 
Nasci num tempo em que pobre era pobre e todos os que não eram pobre, para mim, eram ricos. E por riqueza minha ingênua mente pueril entendia poder ir pra escola de carro, ter um emprego, poder ir de férias quando a escola dava férias,... 
Naquela época eu me já me dava por satisfeito se tivesse o que comer todo dia, em não ter que acender o fogão à lenha com madeira ainda verde, em ter o que vestir pra poder ir à missa ou à escola; em poder não ver meus irmão imigrarem para o eixo Rio-São Paulo, vivendo de favor na casa de algum parente.
Era, enfim, incompreensível, ao meu olhar pueril ter que mudar de casa de ano em ano, fazendo a mudança de noite, como quem se envergonha só deus sabe de que, carregando quase tudo nos braços – tudo é um exagero pois não tinha-se quase nada – e confiando à força de um muar os luxos da casa: a geladeira cônsul azul, o botijão da Brasilgás, o guarda-roupas.
O resto, os colchões despedaçados pelas mijadas, os lençóis e cobertas queimados pelo ferro elétrico a resistência, as caixas das roupas, as estantes feitas de latas de óleo e tabuas, a bateria de ferro que continha as panelas, a aleijada cristaleira – tinha três pernas de madeira pois a outra se perdera, pobrezinha – a radiola Sonata, a televisão a válvula iam nas mãos para reduzir as viagens de carroça e evitar dano nos eletrodomésticos.
Naqueles tempos, enfim, vivia-se de muitos “dar-se um jeito”. Dar um jeito na fome invadindo os pomares alheios, refugiando-se nas casas dos vizinhos mais remediados, indo dormir mais cedo para enganar a fome, repartindo milagrosamente o quase-nada que se tinha.
Dava-se um jeito na falta de trabalho e de dinheiro catando ossos e latas para vender, engraxando sapatos, dando faxinas nas casas alheias, indo catar café, fazendo unhas de porta em porta, prostituindo-se de todo modo pois a lei era a da sobrevivência.
Após uma década de luta e persistência em sobreviver e ascender, do trabalho duro, do êxodo para terras prometidas distantes, depois da aposta na educação, na instrução, a vida vai!
Vai deixando as migalhas do progresso: abandono da cadernetinha usada para registrar a fiado pela compra em cash, nos supermercados, poder fazer compras semanais driblando a inflação galopante dos final dos anos da penúltima década do século passado, o êxodo dos pequenos aglomerados urbanos para outros cada vez maiores: Iguaí, Poções, Jequié, Aracaju,... Cidades que revelam o quanto a busca de oportunidades de crescimento segue um movimento populacional muito característico das últimas décadas do século passado.
Permanece, assim, o fato que: alcançado o direito de sobreviver, a satisfação dos desejos básicos, a melhoria do país – graças ao sacrifício de muitos brasileiros – deve proporcionar aos seus cidadãos dias melhores, ulteriores oportunidades meritocraticas, diminuição progressiva dos privilégios aristocráticos, diminuição da corrupção.
Não são os países emergentes como o Brasil e a China, a Turquia e a Rússia que se rebelam contra as forças favoráveis à inércia; somos nos – João, Pedro, Paulo, Claudio – pessoas concretas que se rebelam. Já não basta comer, vestir. Trabalhou-se, sacrificou-se para obter estes bens básicos. Hoje desejamos comer bem, pagando o preço justo; vestir-se com dignidade; tem um trabalho pra poder viver dignamente e, não, viver pra trabalhar e enriquecer os patrões; o desejo de todos é o de poder andar pelas ruas sem viver com o terror de ser assaltado; ir à escola sabendo que o professor é motivado, com remuneração proporcional ao seu importante papel social; deseja-se uma nação mais democrática: liberdade, igualdade e fraternidade; ainda hoje, bandeiras revolucionarias.

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