A rebelião dos emergentes
Nasci num tempo em que pobre era pobre e todos os que não eram
pobre, para mim, eram ricos. E por riqueza minha ingênua mente pueril entendia
poder ir pra escola de carro, ter um emprego, poder ir de férias quando a
escola dava férias,...
Naquela época eu me já me dava por satisfeito se tivesse
o que comer todo dia, em não ter que acender o fogão à lenha com madeira ainda
verde, em ter o que vestir pra poder ir à missa ou à escola; em poder não ver
meus irmão imigrarem para o eixo Rio-São Paulo, vivendo de favor na casa de
algum parente.
Era, enfim, incompreensível, ao meu olhar pueril ter que mudar
de casa de ano em ano, fazendo a mudança de noite, como quem se envergonha só
deus sabe de que, carregando quase tudo nos braços – tudo é um exagero pois não
tinha-se quase nada – e confiando à força de um muar os luxos da casa: a
geladeira cônsul azul, o botijão da Brasilgás, o guarda-roupas.
O resto, os colchões
despedaçados pelas mijadas, os lençóis e cobertas queimados pelo ferro elétrico
a resistência, as caixas das roupas, as estantes feitas de latas de óleo e
tabuas, a bateria de ferro que continha as panelas, a aleijada cristaleira –
tinha três pernas de madeira pois a outra se perdera, pobrezinha – a radiola
Sonata, a televisão a válvula iam nas mãos para reduzir as viagens de carroça e
evitar dano nos eletrodomésticos.
Naqueles tempos, enfim, vivia-se de muitos “dar-se
um jeito”. Dar um jeito na fome invadindo os pomares alheios, refugiando-se nas
casas dos vizinhos mais remediados, indo dormir mais cedo para enganar a fome,
repartindo milagrosamente o quase-nada que se tinha.
Dava-se um jeito na falta
de trabalho e de dinheiro catando ossos e latas para vender, engraxando
sapatos, dando faxinas nas casas alheias, indo catar café, fazendo unhas de
porta em porta, prostituindo-se de todo modo pois a lei era a da sobrevivência.
Após uma década de luta e persistência em sobreviver e ascender, do
trabalho duro, do êxodo para terras prometidas distantes, depois da aposta na educação,
na instrução, a vida vai!
Vai deixando as migalhas do progresso: abandono da cadernetinha
usada para registrar a fiado pela compra em cash,
nos supermercados, poder fazer compras semanais driblando a inflação galopante
dos final dos anos da penúltima década do século passado, o êxodo dos pequenos
aglomerados urbanos para outros cada vez maiores: Iguaí, Poções, Jequié,
Aracaju,... Cidades que revelam o quanto a busca de oportunidades de crescimento
segue um movimento populacional muito característico das últimas décadas do século
passado.
Vai deixando as migalhas do progresso: abandono da cadernetinha
usada para registrar a fiado pela compra em cash,
nos supermercados, poder fazer compras semanais driblando a inflação galopante
dos final dos anos da penúltima década do século passado, o êxodo dos pequenos
aglomerados urbanos para outros cada vez maiores: Iguaí, Poções, Jequié,
Aracaju,... Cidades que revelam o quanto a busca de oportunidades de crescimento
segue um movimento populacional muito característico das últimas décadas do século
passado.
Permanece, assim, o fato que: alcançado o direito de sobreviver, a satisfação
dos desejos básicos, a melhoria do país – graças ao sacrifício de muitos
brasileiros – deve proporcionar aos seus cidadãos dias melhores, ulteriores oportunidades
meritocraticas, diminuição progressiva dos privilégios aristocráticos, diminuição
da corrupção.
Não são os países emergentes como o Brasil e a China, a Turquia e
a Rússia que se rebelam contra as forças favoráveis à inércia; somos nos – João,
Pedro, Paulo, Claudio – pessoas concretas que se rebelam. Já não basta comer,
vestir. Trabalhou-se, sacrificou-se para obter estes bens básicos. Hoje
desejamos comer bem, pagando o preço justo; vestir-se com dignidade; tem um
trabalho pra poder viver dignamente e, não, viver pra trabalhar e enriquecer os
patrões; o desejo de todos é o de poder andar pelas ruas sem viver com o terror
de ser assaltado; ir à escola sabendo que o professor é motivado, com remuneração
proporcional ao seu importante papel social; deseja-se uma nação mais democrática:
liberdade, igualdade e fraternidade; ainda hoje, bandeiras revolucionarias.
Não são os países emergentes como o Brasil e a China, a Turquia e
a Rússia que se rebelam contra as forças favoráveis à inércia; somos nos – João,
Pedro, Paulo, Claudio – pessoas concretas que se rebelam. Já não basta comer,
vestir. Trabalhou-se, sacrificou-se para obter estes bens básicos. Hoje
desejamos comer bem, pagando o preço justo; vestir-se com dignidade; tem um
trabalho pra poder viver dignamente e, não, viver pra trabalhar e enriquecer os
patrões; o desejo de todos é o de poder andar pelas ruas sem viver com o terror
de ser assaltado; ir à escola sabendo que o professor é motivado, com remuneração
proporcional ao seu importante papel social; deseja-se uma nação mais democrática:
liberdade, igualdade e fraternidade; ainda hoje, bandeiras revolucionarias.
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