21 luglio, 2013

Trayvon Martin - racism - razza - raça - Kyenge - Calderoli - Obama -


                    Trayvon Martin e outros racismos

   Foi necessário que Obama falasse para que os olhos do mundo se voltasse para um velho problema americano: o do racismo. O de um norte branco e purista e o de um south de tradição escravocrata, com suas big house que bem recordam as semelhanças e diferenças com as nossas velhacadas- grandes nordestinas.
   O afro-americano Barack Obama satélites que tentou manter a distancia e evitar possíveis interpretações na direção da assinalarão de conflitos entre os poderes democraticamente divididos e constituídos. Mas, uma coisa é certa: o autorevole presidente soube saber fazer a América parar e pensar a um velho problema americano. E o fez num modo pouco patético e muito realista. Diante da sentença de absolvição do assassino do jovem negro Trayvon Martin pro um vigilante branco, Obama evocou aquela latente suspeita de que o branco é sempre o mocinho da historia e, o negro, o bandido.
   Falou das contradições da América que soube eleger um negro presidente mas que ainda manifesta suas fobias quando encontra diante de si um negro. Não somente fobia, diga-se de passagem, mas um neto racismo. 
   Em uma longa e autobiográfica conferencia para os órgãos da impressa Obama recordou episódios de racismo sofridos e convocou a América para um momento de meditação. Clamorosamente mostrou com alguns casos o quanto os júris dos tribunais americanos possam ser ou não imparciais diante de um réu branco ou negro. Outrossim, prometeu rever as leis que deixam e rever estas lacunas do judiciários americano.
   Muitos anos atras, o nigrofilo Gilberto Freyre já dizia: a America tem muito o que ensinar-nos, mas seguramente, não em questões raciais. Passados tantos anos, pode-se ainda dar razão ao velho Freyre pois enquanto o americano Presidente não há outra arma que a convocação das consciências, na Itália, o vice-presidente do Senado, Calderoli, após ter comparado a ministra ítalo-congoles com um oragontango e sugerir que a política de integração racial fosse posta em prática pelo ministro no Congo, recebeu a reprovação de população, e das autoridades constituídas. Apenas explodiu a polemica, gerada num comício em seu curral eleitoral - a semi-fictícia Padania, parte do norte do território italiano - o parlamentar tentou camuflar a situação alegando ter o hábito de classificar seus amigos em função de suas semelhanças com o membros do reino animal. Como a coisa não funcionou e riscava a estabilidade do instável governo esquerdista e reformista de Gianni Letta, teve que ir em público pedir desculpas à população e à ministra Kembele; suscitando, mesmo assim, uma polemica sem precedentes.

   Infelizmente, neste específico caso italiano,  os atos de racismo não pararam por aí. Passada uma semana do infeliz pronunciamento do parlamentar. Ei- lá lá! A audaz ministra, no território que tanto ostiliza-a. Não deu outra: enquanto falava a uma assembléia, eis que um fanático - ainda anônimo - arremeteu naquela sala algumas bananas, numa clara re-evocação do episódio ocorrido na semana anterior. Desta fez os presentes reagiram repudiando a dupla covardia do anônimo racista. A ministra, da parte sua, soube alçar ainda mais sua bandeira e reprovou a ação com uma afirmação ao quanto menos rica de um duplo sentido. Por um lado recordou que em muitos países, os alimentos arremessados eram uma inteiro refeição. Por outro, com uma frase cortante, revogou a problemática econômica italiana e a necessidade de uma verdadeira metanoia para que se possa construir um país novo. Concluiu assim: e, basta sprechi! ( E, basta com os desperdícios!). Uma grande rainha da pele de ébano!
   Na fraterna França, a família Le Pen, foi punida com a quebra da imunidade parlamentar após a sucessivas investidas contra a população imigrata, sobretudo africana. Assim, descobre-se que o velho mostro do preconceito de cor ainda vive no inconsciente dos que se julgam civilizados. A lição de moral vem de onde menos esperamos, a tenacidade também!

12 luglio, 2013

Memory/democracy/liberté/egualité/ fraternité: A rebelião dos emergentes



A rebelião dos emergentes
 
Nasci num tempo em que pobre era pobre e todos os que não eram pobre, para mim, eram ricos. E por riqueza minha ingênua mente pueril entendia poder ir pra escola de carro, ter um emprego, poder ir de férias quando a escola dava férias,... 
Naquela época eu me já me dava por satisfeito se tivesse o que comer todo dia, em não ter que acender o fogão à lenha com madeira ainda verde, em ter o que vestir pra poder ir à missa ou à escola; em poder não ver meus irmão imigrarem para o eixo Rio-São Paulo, vivendo de favor na casa de algum parente.
Era, enfim, incompreensível, ao meu olhar pueril ter que mudar de casa de ano em ano, fazendo a mudança de noite, como quem se envergonha só deus sabe de que, carregando quase tudo nos braços – tudo é um exagero pois não tinha-se quase nada – e confiando à força de um muar os luxos da casa: a geladeira cônsul azul, o botijão da Brasilgás, o guarda-roupas.
O resto, os colchões despedaçados pelas mijadas, os lençóis e cobertas queimados pelo ferro elétrico a resistência, as caixas das roupas, as estantes feitas de latas de óleo e tabuas, a bateria de ferro que continha as panelas, a aleijada cristaleira – tinha três pernas de madeira pois a outra se perdera, pobrezinha – a radiola Sonata, a televisão a válvula iam nas mãos para reduzir as viagens de carroça e evitar dano nos eletrodomésticos.
Naqueles tempos, enfim, vivia-se de muitos “dar-se um jeito”. Dar um jeito na fome invadindo os pomares alheios, refugiando-se nas casas dos vizinhos mais remediados, indo dormir mais cedo para enganar a fome, repartindo milagrosamente o quase-nada que se tinha.
Dava-se um jeito na falta de trabalho e de dinheiro catando ossos e latas para vender, engraxando sapatos, dando faxinas nas casas alheias, indo catar café, fazendo unhas de porta em porta, prostituindo-se de todo modo pois a lei era a da sobrevivência.
Após uma década de luta e persistência em sobreviver e ascender, do trabalho duro, do êxodo para terras prometidas distantes, depois da aposta na educação, na instrução, a vida vai!
Vai deixando as migalhas do progresso: abandono da cadernetinha usada para registrar a fiado pela compra em cash, nos supermercados, poder fazer compras semanais driblando a inflação galopante dos final dos anos da penúltima década do século passado, o êxodo dos pequenos aglomerados urbanos para outros cada vez maiores: Iguaí, Poções, Jequié, Aracaju,... Cidades que revelam o quanto a busca de oportunidades de crescimento segue um movimento populacional muito característico das últimas décadas do século passado.
Permanece, assim, o fato que: alcançado o direito de sobreviver, a satisfação dos desejos básicos, a melhoria do país – graças ao sacrifício de muitos brasileiros – deve proporcionar aos seus cidadãos dias melhores, ulteriores oportunidades meritocraticas, diminuição progressiva dos privilégios aristocráticos, diminuição da corrupção.
Não são os países emergentes como o Brasil e a China, a Turquia e a Rússia que se rebelam contra as forças favoráveis à inércia; somos nos – João, Pedro, Paulo, Claudio – pessoas concretas que se rebelam. Já não basta comer, vestir. Trabalhou-se, sacrificou-se para obter estes bens básicos. Hoje desejamos comer bem, pagando o preço justo; vestir-se com dignidade; tem um trabalho pra poder viver dignamente e, não, viver pra trabalhar e enriquecer os patrões; o desejo de todos é o de poder andar pelas ruas sem viver com o terror de ser assaltado; ir à escola sabendo que o professor é motivado, com remuneração proporcional ao seu importante papel social; deseja-se uma nação mais democrática: liberdade, igualdade e fraternidade; ainda hoje, bandeiras revolucionarias.

Italy/Italia/Viterbo/history: o viterbese



Italia 1: o viterbese

 
Minha afinidade com a Itália vem de longe. Vem do início dos anos oitenta, quando ludicamente escutava as musicas italianas que compunham o LP Rock’s & baladas

Dentro de sua escandalosa capa – ainda vigorava a censura – com um casal sentado numa moto daquelas com o guidon e com o selim altos; ele, aparentemente nu, ela, somente de calcinha; abrigavam-se perolas da musica italiana influenciada pelo estilo melódico e ao mesmo tempo transgressivo do “rapazinho bonito e provinciano de Menphis”, que com sua face doce e seus movimentos epilépticamente convulsivo seduzia o mundo. Aquele disco, que servira de marco para meus contatos com a Itália trazia o frescor irreverente de Elvis Presley e Little Richard ao lado dos consagradas vozes de Gianni Morandi, Adriano Celentano, Peppino di Capri, Emilio Pericoli, Luciano Tajoli, Il santo Califórnia,... Feras dos anos 60-70, que chegavam no Brasil nos final dos anos 70. eram muitas as músicas e todas elas ficaram cravadas em minha mente: Roberta, In ginacchio da te, Io che non vivo, Al di la,... anos depois, com a magia de youtube pude redescobrir aquela capa fascinante e aquelas músicas que marcaram minha vida.
De fato, passadas quase três décadas de quando ouvi pela primeira vez estes monstros da musica italiana, vejo-me escutando-os nostalgicamente, e pensando o quanto a vida pode surpreender-nos. Quando cheguei em Roma – mas, revelarei os detalhes desta experiência numa outra ocasião – um dos primeiros lugares que conheci foi Viterbo, cidadezinha do Alto Lazio, Capital da homônima Província. Recém chegado em Roma, como calouro nos estudos da Teologia Católica, participei de uma excussão à Città dei Papi – cidade dos Papas – visitando os maiores monumentos dos tempos áureos dessa provinciana cidade.
Viterbo, terra de Santa Rosa de Viterbo, cidade medieval, com forte marcas de seu passado etrusco, com suas tumbas, seus museus, bem que exala aquele odor nostálgico de um tempo que não volta mais e que deve ser preservado. Tempos de glórias; tempos em que os etruscos avançavam seus domínios da Toscana ao Lazio; que os romanos construíam teatros – como o de Ferrento, malmente conservado –; que os Papas fincavam residência, vinham sepultados – o Papa português está sepultado na catedral,... Viterbo vive, nostalgicamente e zelosamente, de seu glorioso passado!
Hoje sinto-me de casa – literalmente –, pois posso permitir-me dizer que conheço muito de sua história, de sua geografia, de sua gente. Acabei apaixonando-me dessa província não tão distante de Roma e a dois passos da Toscana; cheira de parreiras e oliveiras, de gente simples e hospitaleira, lugar de ralax para os amantes do mar; de lagos, como o de Bolsena; da neve e das regiões montanhosas como as da vizinha toscana onde está situado o Monte Amiata; de águas termais, dos bons vinhos como o Est! Est!! Est!!!, de Montefiascone...Viterbo é uma joia encastoada na grande coroa da romanidade.
Enfim, este canto da Itália é rica de história, de lendas e mistérios. Pelas suas florestas viveram briganti como Tiburzi, um fenômeno social semelhante em muitas coisas com o cangaço de Lampião, Maria Bonita, Dada e Corisco. Sua história privilegia-se por custodiar a origem do termo Conclave – quando a população local, após mais de um ano de espera para a escolha do novo papa causada das discórdias entre as potentes famílias romanas que disputavam o Trono de Pedro, decidiu fechas a chave os eleitores, descobriram o teto de onde se reuniam e, enfim, colocaram-lhes “dieta” –; custodia ainda a trágica história da destruição da sede do Ducado de Castro pelas tropas pontifícias; custodia, para não fugir do tema, os palazzi onde o papa Borja eternizara sua fama de Don Juan; custodia, dentre tantas outras coisas, o lugar onde se dera o Milagre Eucarístico que originou a festa e a procissão de Corpus Christi. Viterbo é assim – roubo e aplico impropriamente a feliz expressão do soneto “Língua Portuguesa”, do poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918) – a mais bela flor do Lácio.
Na verdade, pensando bem, devo dar razão a Bilac e concluir afirmando que, meu primeiro contato com a romanidade deu-se por meio de minha língua, derivada do Latim Vulgar falado no Lácio, esta “ultima flor do Lácio, inculta e bela”. Inculta pois falada originalmente por soldados, camponeses e pelas camadas populares; diferente do Latim Clássico, falado pelas classes superiores.Vale reler nosso grande poeta:

Soneto "Língua Portuguesa" de Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!