12 agosto, 2014

Introdução à Filosofia da Ciência



1. Pour parler
Dos tabus que circulavam minha vida dois marcaram-me muito: o do futebol como “religião” estatal e, o outro, o que era sustentado pela máxima “futebol, religião e política não se discute”. Quebrei-os desde sempre, pois nunca admiti que, por ser brasileiro, tivesse o dever de cultuar o futebol. Nunca! Rejeitei a necessidade de cultuar os “santos” regionais e os do eixo Rio-Sampa; e, quando me perguntavam por qual time eu “intercedia” sempre respondi que não tinha “time do coração”; nem timinho nem timão. Fiquei fora das confrarias futebolísticas, fora das rodas dos entendidos no tema, ... Mas nunca apresentei-me sabedor de tais argumentos. Sempre repudiei o mundialmente difundido hábito de falar a despropósito, falar por falar, de falar por ter ouvido dizer, nunca gostei do pour-parler pois sempre achei que ao invés do que se estabelecia como tabu, poder-se-ia, sim, discutir sobre futebol, religião e política, pois acreditei que na discussão repousa a manifestação de um dos maiores desejos da humanidade: o desejo de encontrar a verdade. Hoje, aliás, acho extremamente deletéria a sustentação da validade de uma afirmação deste gênero.
Não poder discutir sobre religião não pressupõe somente o rechaço das divergências – como bonachonamente alguns podem querer interpretar – mas, na selva de espinhos e armadilhas do mercado religioso, supõe a relatividade de todas elas, nivelando a busca da verdade na possibilidade de vê-la dissolvida, ou, em pedaços. Aqui e ali. Supõe, ainda, a desnecessidade de avaliação da atuação ética e moral dessas instituições e de seus representantes como se a sacralidade que reveste muitas delas justificasse o farisaísmo e a prepotência de alguns guias e a passividade e mansuetude como únicas possibilidade dos adeptos e fiéis de viverem conformes aos pressupostos da divindade justiceira que, um dia, desembainharia sua espada, se sentaria em seu trono e separaria os bons dos maus, “as ovelhas dos bodes” (Mt 25, 31-32), o “joio do trigo” (Mt 13, 24-30).
Nesta mesma linha, nada se poderia indagar sobre o bem da polis, como se o mau-caratismo de um administrador tivesse o mesmo valor do homem público altruísta; ou, ingenuamente, como se descesse um “espírito santo” que durante o mandato guiasse os homens públicos aplainando os tortuosos caminhos que cortam a busca do bem de todos. Há muito tempo que penso – e ainda creio nisso – que uma legenda partidária não vale outra, que existem políticos e políticos; e, principalmente, que como já dissera o velho e bom filósofo Aristóteles, o poder não corrompe o homem, mas faz emergir o que ele realmente tem dentro de si.
Pour-parler, não! Pra falar com autoridade, é necessário ter conhecimento de causa. Para evitar os lugares-comuns ou o relativismo das ideias, se perseguimos a verdade, pra entrar num dialogo, antes de mais nada, é necessário saber do que se fala e com quem se dialogara. E, isto, pelos seguintes motivos: para que não vejas teu esforço intelectual não passar de uma verborreia, para que teu interlocutor não perca tempo, para que ao fim do diálogo, se esteja mais próximos da verdade, mais enriquecidos.
Enfim, e sobre o futebol? Os 7 a 1 do show de bola entre a Alemanha e o Brasil, deste último Mundial são a imagem mais plásticas de que, podemos sim, discutir, argumentando, evitando o pour-paler, de coisas da nossa cultura, da nossa transcendência e na nossa mundanidade, passando da banalidade à doxa e, desta à episteme.
2. Doxa
Mesmo quando possa parecer duro o juízo sobre as discussões fúteis na quais por vezes nos enveredamos, o passo seguinte, da perda de tempo para a construção de uma pré-compreensão.
In economics, other social sciences and philosophy, analysis of social phenomena based on one's own opinion(s) is referred to as normative analysis (what ought to be), as opposed to positive analysis, which is based on scientific observation (what materially is or is empirically demonstrable).
Historically, the distinction of demonstrated knowledge and opinion was articulated by Ancient Greek philosophers. Today, Plato's analogy of the divided line is a well-known illustration of the distinction between knowledge and opinion, or knowledge and belief, in customary terminology of contemporary philosophy. Opinions can be persuasive, but only the assertions they are based on can be said to be true or false.
A doxa (δόξα) é opinião; isto é, o conhecimento relativo que não colhe a autentica verdade e que, logo, é fonte de erro. Neste sentido, contrapõe-se à episteme (έπίστήμη).
Utilizada pelos retóricos gregos como ferramenta para formação de argumentos através de opiniões comuns, a doxa foi utilizada pelos sofistas para persuadir as pessoas, levando Platão a condenar a democracia ateniense.
A palavra doxa ganhou novo sentido nos séculos III ac. e I ac quando, em Alexandria, traduziram as escrituras hebraicas para o grego. Nessa tradução das Escrituras, chamada Septuaginta, a palavra hebraica para glória (kabot) foi traduzida para o grego como doxa. Essa tradução das Escrituras Hebraicas foi utilizada pela Igreja primitiva, sendo constantemente citada e utilizada pelos redatores do Novo Testamento. Os efeitos desse novo significado de doxa como “glória” é evidenciado pela utilização da palavra em todos os lugares do Novo Testamento e nos serviços de adoração da Igreja Ortodoxa Grega, que reflete os costumes ou práticas mais do que a opinião pessoal.
Doxa na filosofia clássica. Platão costumava opor conhecimento à doxa, o que levou à clássica oposição de erro à verdade, cuja análise desde então se tornou um grande interesse na filosofia ocidental. Portanto, o erro é considerado no Ocidente como negatividade pura, a qual pode tomar várias formas, dentre elas a forma de ilusão. Desse modo, doxa pode ironicamente ser definida como a “falha do filósofo”. Na retórica clássica, ela é contrastada com episteme.
Platone [...] lo inserisce coerentemente nel proprio pensiero, facendo della ‘doxa’ la conoscenza sensibile, articolata in ‘είκασία’, immaginazione o conoscenza delle immagini sensibili, e, πίστις, credenza o conoscenza degli oggetti sensibili. facendo dell’essere sensibile un piano intermedio tra il vero essere – iperuranico (monde delle idee) – e il nulla, Platone considera la ‘doxa’ come una conoscenza mediana, che richiede però di essere confermata e trasformata in ‘episteme’ [Cf. Menone 97ss] (E. Vimercati, «Doxa», Enciclopedia filosofica, IV, Milano, Bompiani, 2006, 3096-3097).
Entretanto, Aristóteles (Metafisica, VII, 15, 1039b 31) utilizou o termo endoxa – crenças comumente sustentadas aceitas pelos sábios e pelos mais antigos e influentes retores – para reconhecimento das crenças da cidade. Endoxa é uma crença mais estável do que doxa, porque ela tem sido “testada” nos debates da pólis por algum interveniente. A utilização do termo endoxa pelo estagirita pode ser encontrada nas suas obras Tópica e Retórica.
3. Episteme
O termo grego έπίστήμη é normalmente traduzido, ao mesmo tempo, seja como “conhecimento” seja como “ciência”. Se partirmos de Platão, como foi dito acima, com este termo prentende-se indicar a forma mais completa e sistemática de saber. Mas, é importante ressaltar que, na linguagem hodierna, tais traduções não equivalem ao que comumente conhecemos como “ciência”, nem menos indica qualquer tipo de conhecimento. A mais antiga reflexão grega sobre o conhecimento assume para si como caso paradigmático, aquele no qual o objeto está diante da vista de quem o conhece: até que o objeto permaneça firme diante dos olhos do observador, ele é claramente conhecido. Todavia, tão logo ele sai daquele campo visível, já não esta mais sob seu controle. Daqui o problema de seu porvir, a qual possibilidade de conhecimento não é mais garantida. sob profunda influência de Parmênides, difunde-se a ideia de que somente daquilo que é imóvel e imutável si possa obter o verdadeiro conhecimento; enquanto que,  de tudo o que seja contingente ou, em qualquer modo, mutável,  pode-se, tão somente, ter uma opinião.
Se poi si accetta l’idea di Eraclito, secondo il quale tutta la realtà non è immobile ma in incessante flusso, la conclusione non è lo scetticismo, ma un relativismo come quello di Protagora: la conoscenza non è impossibile, ma dipende interamente dal punto di vista e dalla situazione del soggetto conoscente (P. Fait, «Episteme», Enciclopedia filosofica, IV, Milano, Bompiani, 2006, 3449-3450).
Plantão, dentro deste quadro problemático, busca definir a episteme. tudo aquilo que é, adequadamente, objeto de conhecimento não pode mudar no tempo logo, não pode ser nada do mundo sensivelmente perceptível. Ainda: para ele, a episteme não pode ser doxa, uma mera opinião, mesmo quando esta seja verdadeira. o objeto de opinião, de fato, é inconstante e, assim, tem que ser, de qualquer modo, “amarrado”.

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