25 marzo, 2014

Da unidade à separação; da separação à unidade: entorno dos elementos de teologia, sociologia e política que contribuíram para a separação entre os cristãos. Ainda: entorno dos elementos que poderão contribuir para a promoção da unidade dos cristãos



Da conversão do Mundo antigo ao cristianismo à sua multiforme configuração
 
Segundo Orlandis, o César Galério foi o maior instigador da perseguição Deoclesiana. Reconhecendo seu erro, o Augusto Galério poblicou em Sárdica, em 311, “um edicto que costituia la rectificación de toda su antigua política religiosa. El edicto reconocia al cristianismo um derecho di existencia legal: ‘denuo sint christiani; ordenaba, “existan de neuvos lós cristianos y celebren SUS asembleas y cultos, com tal de que no hagan nada contra el orden público”[1]. Assim, o cristianismo perdia o status de ‘superstição ilícita’.
Com o Edito de Milano[2], de dezembro de 313, o imperador Constantino a Igreja concedia à Igreja Católica a liberdade religiosa que favorecia o anúncio do Evangelho[3].
Tudo o que estava atrelado ao Império teve um crescimento vertiginoso, ao ponto que, em 324 passou a ser o único soberano da totalidade do Império, após ter vencido Licínio. E isso se deu também com a religião. De fato naquele ano promulgou dois editos para o Oriente, destinados a instaurar a paz religiosa naquela região e garantir aos pagãos o exercício de seu culto. Eram editos de conteúdo semelhante à regulamentação de Milano – mas com significativas variações que evocavam o percurso realizado nos anos passados. Fazendo uma profissão de fé cristã, Constantino exortava seus súditos “a servirer com toda reverencia à lei divina”. Assim, o paganismo passava a ser a “falsa religião das trevas”, aparecendo tão somente como tolerado. O conúbio do Imperador com o cristianismo proporcionou a edificação de templos e basílicas em Roma e em Constantinopla, a cargo do finança imperial.
Sustentando a tese da periculosidade do conúbio entre poder temporal e espiritual, é importante salientar que a subida de Costanzo II, o arianismo que ainda conseguia sobreviver fora assunto como religião oficial do Império do Oriente sendo, muito rapidamente, exportado para o Ocidente, tendo grande sucesso entre as populações germânicas – Godos, Burgundos, Svevos, Vândalos, Visigodos e Lombardos, até que fora extinto totalmente no século VII. Recaredo, o rei dos Visigodos, se convertera em 589 e, em 653, o rei longobardo Ariberto, pondo, assim, fim oficial ao credo ariano.
No Império romano o problema a unidade administrativa era facilmente resolvido por meio de guerras e mudanças de preceptores, comandantes e governadores. Com a conversão dos imperadores surgia o problema da unidade religiosa pois nem sempre os imperadores – ou suas consortes – aderiam à ortodoxia. Haja visto que a unidade religiosa era fundamental pois também dava uma identidade ao Império, com a propagação da fé cristã dentro as diferentes camadas sociais do Império – basta, para tal fim, evocar a presença de Elena, mãe do Imperador Constantino, como componente da comunidade eclesial, emergia a necessidade da tolerância que não era a concessão de um favor ou o resultado da presunta vitoria mística de 313, mas uma negociação e o desejo de unificar o Império debaixo de uma mesma fé capaz de caminha a pari passu com o poder institucional estabelecido. Daqui,a preocupação em restaurar  - num gesto patronal – a paz na cristandade africana, já em fase de separação por causa do cisma donatista[4]. Com este fim, por exemplo, Constantino convocara o Concílio de Arles (314) e promovera o de Niceia (325), finalizado a placar as doutrinas heréticas de Ario[5].
Houveram, todavia, imperadores – e pessoas de grande influencia nas decisões imperiais – que aderiam ou simpatizaram com doutrinas heréticas que chegavam a desencadear o mecanismo originário de algumas Igrejas autocéfalas, como podem ter sido os imperadores filo-arianos do quarto século Constancio e Valente; e, até, da volta à religião pagã[6], como foi, nomeadamente, o caso do Imperador Juliano, apelidado de O Apóstata.. todavia, salvo esta exceções, no quarto século, os cristãos já compunham a maioria do Senado Romano, refletindo, com isso, não somente uma tendência, mas a ascensão do cristianismo até seu ponto máximo: seu reconhecimento como religião de Estado, o que ocorrera baixo Teodósio, com a famosa constituição Cunctos populos, assinada em Tessalônica (28/02/380).
Enfim, os frutos do edito de Milão foram positivos, mas com grandes feridas. O imperador tolerou a religião, mas o que estava em jogo não era a fé propriamente e sim a identidade do império, todavia, foi a partir desta negociação com o imperador que a Igreja se expandiu sendo que, passados alguns anos esta negociação criou problemas de unidade causando grandes divisões internas que findaram por gerar muitas das Igrejas autocéfalas ainda hoje existentes. Se o conúbio entre o Império e a fé cristã permitiu a maior expansão da mensagem evangélica, é outro tanto verdadeira que o perdurar dessa situação deu origem não somente a problemas de ordem organizativo-administrativo, mas, também de ordem teológica; e, é, justamente, daqui que nascem os problemas ainda hoje marcantes no caminho da unidade dos cristãos.
Dos elementos que prepararam o Grande Cisma
O Grande Cisma teve suas bases num passado que se confunde com a própria história originaria da diversidade entre uma e outra realidades, a saber: o Ocidente e o Oriente. Padre Orlandis é um destes historiadores concordes em radicar o problema da questão em época muito remota; ainda, no período da pax constatiniana.
Pero el siglo IV precisamente es un época crítica en la historia de la Antiguedad, porque fue entonces quando cristalizó de manera definitiva la diferenciación entre Oriente y Occidente, como expresión de dos culturas, de dos Imperios y de dos destinos. Fue aquel uno de los fenómenos históricos que mayores consequencias ha tenido para la suerte ulterior de la humanidad y cuya huella, siempre patente a través de los siglos, llega hasta nuetros días. No es posible escribir ni entender la historia sin tener bien presente el dualismo Oriente-Occidente, que tantas veces la ha condicionado. Cabe incluso afirmar que muchas situaciones reales de la Europa de hoy, y los difíciles problemas que plantean en el terreno cultural o religioso, en el social o en el politico, siguen siendo de algún modo efectos remotos, pero actuales, de aquella lejana causa, que continúa todavia operando desde las profundidades del pasado” (Orlandis, 135-136).
As razões desta dissociação entre Oriente e Ocidente podem ser resumidas nos seguinte ponto, que se ressaltaram, cada vez mais, a partir do quarto século: a prodigiosa unidade do Orbe – conseguida pela Império – não conseguia eliminar as radicais diferenças entre os espaços culturais da latinidade e do helenismo. Daqui decorre a necessidade de diferentes soberanos para as duas partes do Império, a saber, Ocidental e Oriental (salvo nos governos constantiniano e teodosiano)[7].
Outros aspectos que demarcaram a diferença e dissociação dos dois mundos:
1.     as diferenças entre o cristianismo latino e o oriental: a absorção de muitos conceitos do direito e da cultura romana,
2.     as diferenças temperamentais entre latinos e gregos, entre o sentido jurídico e pragmático dos ocidentais e a inclinação do espírito oriental à disquisição especulativa,
3.     a dualidade linguística[8],
4.     tendência autonomista dos Patriarcados[9], especialmente de Constantinopla[10],
5.     as agudas interferências dos Imperadores na vida da Igreja Católica.
O problema da diversidade linguística foi um dos maiores obstáculos, principalmente se pensarmos que naqueles séculos deram-se as grandes controvérsias teológicas pois fomentava o receio de não traduzir adequadamente as fórmulas doutrinais e, ainda, suscitava não pouca recíproca desconfiança[11]. No final do século quinto registrou-se uma primeira ruptura – que, todavia, não foi definitiva – que serviu de anúncio para outras mais graves que se produziriam futuramente: o cisma de Acácio, patriarca de Constantinopla.
Como se configurou a Igreja no Oriente até o Grande Cisma
Um fator determinante na distinta configuração da vida da Igreja no Oriente e no Ocidente foi a expansão islâmica. Basta saber que, já no VII século três dos quatro grande patriarcados do Oriente estavam sob o domínio islâmico[12]. Estes patriarcados, atuando na resistência ao rápido avanço muçulmano foram dedicando-se, cada vez mais, às questões internas e buscando soluções autóctones aos problemas que surgiam, diminuindo, assim, cada vez mais, os contatos com a catolicidade ocidental. Até 1054, o ano do Grande Cisma, o maior protagonista foi sendo a Igreja Grega. Somente após esta ruptura é que foi-se convocando Concílios finalizados à unificação, ao saneamento da ruptura e à restauração da unidade da Igreja Católica. Deste estes concílios, o ultimo fora o di Firenze – de 1439 – que parece ter seu intuito frustrado pois coincidira com a queda do Império cristão do Oriente.
Dentre os fatores que acentuaram as diferenças entre o oriente e o ocidente cristão está toda a questão política entorno da criação do Império de Carlomagno, continuado no Império germânico que foi segregando Roma e o Papado[13] das influências do Império Bizantino, instituindo uma nova ordem social e religiosa fundada, exclusivamente no valores da ocidentalidade latina. A única exceção ainda existente à época era a região meridional da península Itálica, dominada pela império bizantino mas que, no século XI conhecera seu ocaso; eliminando, assim, o único campo de contato entre duas realidade sociais e religiosas.
Dos fatores da separação, não pode ser desconsiderado aquele a propósito da Ilíria ou dos búlgaros, mesmo sabendo que em campo propriamente religioso, os mal-entendidos eram inúmeros, principalmente pela mutua ignorância que vinha se alastrando. Daqui a questão do Filioque ter sido um novo e grave motivo para o aumento das suspeitas de heresias que vinha-se fomentando mutuamente.
Vista como foi sendo formulada a questão, parece justa a afirmação de Orlandis:
En fin, históricamente es lícito afirmar que al cisma se llegó casi insensible tras un largo proceso de enfriamiento de ese afecto de caridad que era indispensable para que pudiera sobrevivir el vínculo de la comunión eclesial” (Orlandis, 263).
Em seguida, ver-se-á rapidamente algumas questões que desembocaram no Grande Cisma: a das imagens, a dos búlgaros, a da controvérsia entre Inácio e Fócio; e, enfim, o cisma de Miguel Celulário.

Primeira questão: a das imagens
No início do século VIII a invasão árabe fazia ainda mais ameaçadora e foi somente com a instauração da dinastia Isáurica – fundada pelo comandante Leão III (717-741). Reforçou-se o Império bizantino em relação aos perigos exteriores, mas instaurou-se uma forte divisão interior por meio de um polemica entrono ao uso religioso de imagens, marcante dentro da tradição religiosa oriental popular. O problema foi suscitado pois Leão Isáurico era proveniente de uma província asiática onde a influência judaica e muçulmana defendia a impossibilidade de representar plasticamente a Divindade. Segundo Orlandis, corroborou para a situação a seita dualista dos paulicianos[14], radicalmente iconoclasta. O fato é que em 726 o Imperador decretou a proibição de venerar imagens e, em seguida, deu ordem para que fosse destruídas. Em seguida Leão III pretendeu que o Papa Gregório II sancionasse tais medidas. Diante da recusa, o Imperador confiscou as propriedades pontifícias encravadas nas zonas meridionais da península Itálica, segregando assim, o mundo bizantino da mundo latino.
Nessa peleja, os imperadores isáuricos se valiam da obediência de seus exércitos – quem eram os executores materiais da política iconoclasta; e, da outra parte, os monges e o povo foram os grandes defensores dos ícones, sofrendo, por isso, perseguição e morte.
O combate tornou-se ainda mais acirrado com o sucessor de Leão III, seu filho, Constantino V, Coprônico (741-775), que teve a pretensão de revestir de caráter teológico a peleja iconoclasta, convocando, para este fim, um Concílio em Constantinopla (754)[15], que condenou como idolatria a veneração de imagens e excomungou os defensores desse culto[16]. Após este Sínodo a autoridade político procedeu à sistemática destruição das imagens, de relíquias, chegando a determinar a proibição da oração e do culto aos santos.
A situação mudou somente após a ascensão ao trono de seu filho, Leão IV, casado com a imperatriz Irene, partidária da iconodulia. Viúva, Irene passou a  reger o trono durante a minoridade de seu filho Constantino VI. Assim, de acordo com o Papa Adriano I, reuniu o segundo Concílio de Niceia (787), o sétimo ecumênico. Este Concílio declarou nulas as decisões daquele Sínodo e formulou – com base na teologia de João Damasceno[17] – a doutrina ortodoxa sobre a veneração das imagens, definindo que a verdadeira latria era exclusiva de Deus, mas que as imagens de Deus, da Virgem Maria, dos anjos e santos podiam ser veneradas, sendo legitimo render-lhes honra[18].
deste modo, percorrendo a regia estrada, seguindo em tudo e para tudo o inspirado ensinamento dos nossos santos padres e a tradição da Igreja católica reconhecemos, de fato, que o Espírito Santo habita nessa e nos definimos com toda cautela e diligencia que, à semelhança da preciosa e vivificante Cruz, as veneráveis e santas imagens – em forma de pintura ou de mosaico – de toda e qualquer matéria adapta, devam ser expostas nas santas igreja de Deus, nas sacras objetos e nas vestes, nas paredes e sobre as mesas, nas casas e nas ruas; sejam estas, imagens do Senhor e Salvador nosso Jesus Cristo, ou aquela da Imaculada Senhora nossa, a santa mãe de Deus, dos anjos dignos de honra, de todos os santos e homens pios. De fato, quanto mais continuamente esses são vistos nas imagens, quanto mais os que lhes veem são conduzidos à lembrança e ao desejo daqueles que tais imagens representam, e a tributarem a estes respeito e veneração. Não se trata, certamente, segundo nossa fé, de um verdadeiro culto de latria – pois este é reservado somente à natureza divina – mas de um culto semelhante àquele tributado à imagem da preciosa e vivificante cruz, aos santos evangelhos e a outros objetos sagrados, honrando com a oferta de incenso e de velas, como era costume entre os antigos. A honra tributada à imagem, de fato, passa àquele que esta representa; e quem adora a imagem, adora à substancia de quem nela é reproduzido [19].
Mesmo definindo esta doutrina teológica, nos séculos vindouros, exemplarmente, no século IX, foi registrada outra onda iconoclasta concomitante à subida ao trono de Leão V, o Armeno (813-820). Com sua prematura morte, subiu ao trono a imperatriz Teodora – enquanto seu filho, Miguel III, não atingia a maioridade – que reuniu um Sínodo em Constantinopla (843), restaurando definitivamente o culto das imagens, celebrado hoje, na Igreja Grega, como a Festa da Ortodoxia, no primeiro domingo da Quaresma.
Visto que a questão da imagens suscitara não somente um relativa aproximação do papado e uma neta e distinta reação por parte do clero secular e do clero religioso; pode-se enfeixar afirmando que a perseguição desencadeada pelos imperadores heréticos contribuira para que a ortodoxia representado por Roma reaflorasse.

Segunda questão: a dos búlgaros
Esta segunda questão deu-se enquanto na Sé constantinopolitana subseguiram-se os patriarcas Inácio e Fócio.
Sucintamente, a questão pode ser posta nos seguintes termos: o príncipe búlgaro, Boris, em 864, converte-se ao Cristianismo e busca fazer o mesmo com seus súditos. Com este intuito, solicitou ao patriarca constantinopolitano de então, Fócio, que organizasse, na Bulgária, uma hierarquia eclesiástica completa, de modo que o país pudesse contar, o mais rápido possível, com uma igreja autônoma, autocéfala. Desejando que a Bulgária caísse sobre sua jurisdição o Patriarca foi adiando a data para um resposta a soberano búlgaro, o que veio a irritá-lo. Boris, vista a demora, mandou em embaixada ao Papa Nicolau I (800-867), solicitando o envio de missionários e oferecendo a incorporação de seu povo à Igreja latina. Digna di menção são os questionamentos búlgaros sobre as diferenças disciplinares entre o cristianismo grego e o latino[20]. Nicolau I não somente respondeu a tais questionamentos, mas, também, enviou missionários, precedidos por dois legados pontifícios – um deles era o italiano Formoso, bispo da diocese portuguesa de Porto, o futuro papa. Não tardou muito a Boris manifestar seu apreço pelo legado pontifício, pedido incisivamente que o papa o nomeasse Arcebispo da Bulgária. Não tendo este pedido atendido e, a causa de forte pressões bizantinas, Boris não somente despediu os missionários latinos, retonando definitivamente à comunhão com o Patriarcado de Constantinopla, em 870. Com o Grande Cisma, a Bulgária seguiu o mesmo caminho traçado por Constantinopla.

Terceira questão: a da controvérsia entre Inácio e Fócio
A questão iconoclasta fez aflorar dois partidos dentro da Igreja Bizantina; e, estes dois, atrelados aos dois patriarcas que sucederam-se, a saber: Inácio[21] e Fócio[22]. O primeiro, filho do Imperador bizantino Miguel I, deposto em 813 por Leão III; o segundo, um leigo erudito, oriundo da aristocracia bizantina.
A carreira eclesiástica de Fócio avançou de forma invlugar após o kaisar Bardas e seu sobrinho, o jovem imperador Miguel, colocaram um fim na administração da regente Teodora em 856 d.C. Em 858, foi a vez de Bardas se ver em conflito com o patriarca Inácio de Constantinopla, que se recusava a admiti-lo em Santa Sofia por causa de seu relacionamento com a sua nora, que era viúva. Em resposta, Bardas e Miguel tramaram a deposição de Inácio e o prenderam sob acusações de traição, deixando o trono vago. Bardas logo o preencheu com Fócio, que foi tonsurado naquele mesmo ano e, nos quatro dias subsequentes, foi ordenado leitor, subdiácono, diácono e padre. Ele foi consagrado como patriarca de Constantinopla no Natal .
A deposição de Inácio e repentina promoção de Fócio provocaram um escândalo e uma divisão eclesiástica de proporções internacionais, pois o papa e os demais bispos ocidentais tomaram as dores de Inácio. A deposição dele sem um julgamento eclesiástico formal significava que a eleição de Fócio era não canônica e, eventualmente, o papa Nicolau I se envolveu na questão para determinar a legitimidade desta sucessão. Legados foram despachados para a capital imperial com instruções de investigar o caso, mas, ao encontrar Fócio já bem estabelecido na posição, eles concordaram com a sua eleição num sínodo realizado em 861 d.C. Ao retornarem para Roma, eles descobriram que não era isso que Nicolau pretendia e, em 863, num outro sínodo realizado em Roma, o papa depôs Fócio e reconduziu Inácio ao trono patriarcal. A ação foi completamente ignorada em Constantinopla e, quatro anos depois, Fócio se vingaria ao chamar um concílio e excomungando o papa por heresia, por causa da questão do filioque.
Esta confusão mudou com o assassinato do patrocinador de Fócio, Bardas, em 866, e do imperador Miguel no ano seguinte pelo seu co-imperador Basílio I, o Macedônio, que usurpou o trono. Fócio foi deposto como patriarca, não tanto por ser protegido de Bardas e Miguel, mas por que Basílio procurava uma aliança com o papa e com o imperador do ocidente. Fócio foi removido do cargo e banido por volta de setembro de 867 e Inácio foi reinstalado em 23 de novembro. Fócio então foi condenado pelo Concílio de 869-870. Não muito depois de sua condenação, Fócio conseguiu se reconciliar com Basílio e se tornou o tutor dos filhos do imperador. A partir de cartas sobreviventes de Fócio escritas durante o exílio no mosteiro de Skepi, parece que o ex-patriarca pressionou o imperador para que ele fosse reinstalado. Logo após Fócio ter sido convidado a se juntar à corte, ele e Inácio se encontraram e se reconciliaram publicamente. Quando Inácio morreu em 23 de outubro de 877, foi uma questão de dias até que seu antigo oponente fosse novamente apontado como patriarca. Fócio desta vez obteve o reconhecimento formal do mundo cristão num concílio reunido em Constantinopla em novembro de 879. Os legados do papa João VIII compareceram, preparados para reconhecerem Fócio como patriarca legítimo, uma concessão pela qual João seria muito censurado pela opinião dos autores latinos. O patriarca permaneceu firme nos principais pontos de contestação entre as igrejas do ocidente e do oriente, o pedido de desculpas exigido pelo papa, a jurisdição sobre a Bulgária e a introdução da cláusula filioque no credo niceno-constantinopolitano. Eventualmente, Fócio se recusou a se desculpar ou aceitar a inclusão do filioque e os legados tiveram que se contentar em retornar para casa apenas com a jurisdição sobre a Bulgária para Roma. Esta concessão, porém, era puramente formal, pois a Bulgária retornou ao rito bizantino em 870 e já havia assegurado para si o status de igreja autocéfala. Sem o consentimento de Bóris I da Bulgária, o papado não tinha a menor condição de fazer valer suas pretensões sobre o território.
Durante as disputas entre Basílio e seu herdeiro, Leão, Fócio tomou o lado do imperador. Em 883, Basílio acusou Leão de conspirar contra sua vida e confinou o príncipe no palácio. Ele o teria cegado não fosse pela intervenção de Fócio e de Estiliano Zautzes, o pai de Zoé Zautsina, a amante de Leão. Em 886, Basílio descobriu e puniu outra conspiração, desta vez dos empregados do hicanátos João Curcuas e muitos outros oficiais. Nesta, Leão não foi implicado, mas Fócio era possivelmente um dos conspiradores.
Basílio morreu em 886 num acidente de caça. Desta vez, a evidência aponta para um plano por parte de Leão, que se tornou imperador e dispensou Fócio, que havia sido seu tutor. Ele foi substituído pelo irmão o imperador, Estêvão I, e enviado para exílio no mosteiro de Bordi, na Armênia. É possível confirmar, pelas cartas de e para o papa Estêvão V, que Leão arrancou uma renúncia de Fócio. Em 887, Leão montou um julgamento de traição contra Fócio, mas não conseguiu a sentença que queria. A testemunha principal, Teodoro Santabarenos, se recusou a testemunhar que Fócio estava por trás da remoção de Leão do poder em 883 e acabou sofrendo a fúria do imperador após o término do julgamento. Como persona non grata, Fócio provavelmente retornou à força para a vida monástica. Porém, parece que ele não permaneceu em opróbrio pelo resto de sua vida.
Fócio continuou sua carreira como um escritor no reino de Leão, que provavelmente reabilitou a sua reputação nos anos seguintes. Em sua Epitaphios, sobre seus irmãos, um texto provavelmente escrito em 888, o imperador representa Fócio favoravelmente, retratando-o como o patriarca legítimo e um instrumento de unidade, uma imagem em contraste com as suas ações contra ele em 886 - 88722 . A confirmação de que Fócio fora reabilitado apareceu depois de sua morte: de acordo com algumas crônicas, foi permitido que seu corpo fosse sepultado em Constantinopla. Também, de acordo com o biógrafo de Inácio, anti-Fócio, os aliados do ex-patriarca clamaram por sua santidade após a sua morte. Além disso, um proeminente membro da corte de Leão VI, Leão Choiropaktes, escreveu poemas comemorando a memória de diversas figuras famosas da época, como Leão, o Matemático e o patriarca Estêvão, e também Fócio.
A Igreja Ortodoxa venera Fócio como um santo, comemorado no dia 6 de fevereiro. Já, no martirológio romano da Igreja Católica Romana, Inácio é considerado um santo, comemorado no dia 23 de outubro. Permanece, não obstante as divergentes opiniões de Católicos e Ortodoxos acerca da santidade destes dois patriarcas, permanece o fato que Fócio tenha passado para a história como o maior acusador da Igreja Ocidental como uma igreja herética por causa da adição do filioque ao Símbolo do Fé. Como confirma Orlandis: “que ello no fue sólo um gesto circustancial, lo demuestra el hecho de que, privado ya definitivamente del patriarcado, Focio dedico los últimos años de su vida a componer la ‘Mystagogia’, del Espíritu Santo, um tratado destinado a refutar la doctrina teológica de los latinos [23].

Quarta questão: a que culminou com o cisma de Miguel Cerulário[24]
Enquanto o século IX fora marcado pelo Cisma de Fócio, o século seguinte foi marcado por ulteriores incidentes e tensões sem que, porem, fossem sendo produzidas rupturas irreparáveis. Já, o século XI descortinou-se com um episodio significativo para a separação aqui estudada, toda a problemática entorno aos nomes de Miguel Cerulário e o legado do papa Leão IX[25], o Cardeal Humberto de Silva Cândida[26], autor formal da excomunhão que colocou um ponto final nas tensas relações entre a Igrejas Latina e Bizantina.
Nascido em Constantinopla, o patriarca Miguel I Cerulário disputou com o papa Leão IX sobre as práticas litúrgicas distintas entre as igrejas no ocidente e no oriente, especialmente o uso de pão ázimo na Eucaristia. Leão enviou uma carta ao patriarca em 1054 citando uma grande parte da Doação de Constantino, que se acreditava na época ser um documento genuíno. Leão IX assegurou ao patriarca que a doação era completamente genuína e, por isso, apenas o sucessor apostólico de Pedro possuiria esta primazia e era o herdeiro genuíno da Igreja.
Esta carta do papa Leão IX também foi enviada para Leão, o arcebispo da Bulgária, e era uma resposta a uma carta enviada por este Leão, metropolita de Ácrida (sede do arcebispado no Reino da Bulgária), para João, bispo de Trani, na região sula da Itália chamada Puglia, na qual ele atacava furiosamente os costumes da igreja latina que diferiam dos da grega. Atenção especial foi dedicada a criticar as tradições romanas do jejum no dia de descanso e a consagração de pão ázimo. Leão IX, na resposta, acusou a Igreja de Constantinopla de ser historicamente uma fonte de heresias confirmou, em termos categóricos, a primazia do bispo de Roma inclusive sobre o patriarca de Constantinopla. Miguel não aceitou nada disto.
A carta do patriarca para o papa Leão IX iniciou a sequência de eventos que se seguiram pois ela reivindicava o título de patriarca ecumênico – um tema que já havia provocado discórdia na época de João IV Nesteutes quatrocentos anos antes. O papa enviou alguns legados, dentre eles os cardeais Humberto de Silva Candida e Frederico de Lorena, numa missão em seu nome para ameaçar o patriarca. Cerulário se recusou a se encontrar com ele e o manteve esperando por meses. Por isso Humberto entregou uma nota de excomunhão contra Miguel em 16 de julho de 1054[27], apesar de o papa Leão ter morrido três meses antes, o que invalidaria o ato. Após ter interpretada a excomunhão como válida para toda a Igreja grega, Miguel, por sua vez, excomungou os legados pontifícios, estendendo a excomunhão àqueles que lhes haviam enviado; e retirou o nome de Leão dos dípticos, iniciando assim o Grande Cisma. Este cisma levou ao fim a aliança entre o imperador bizantino e o papado, o que fez com que os papas posteriores se aliassem aos normandos contra o Império Bizantino. O patriarca Miguel fechou as igrejas latinas em sua jurisdição, o que só exacerbou a situação.
Miguel Cerulário se envolveu também na negociação da abdicação de Miguel VI, o Estratiótico, convencendo-o a renunciar em 1057 em favor do revoltoso general Isaac, que tinha sido declarado anteriormente imperador pelo exército. O imperador obedientemente seguiu o conselho do patriarca e se tornou um monge. Tendo tido um papel em colocá-lo no trono, Cerulário logo discutiu com o imperador Isaac I Comneno sobre o confisco das posses da igreja. Após os contrastes ente o Imperador e o Patriarca – o religioso estava favorecendo a revolta dos exércitos da Ária –, este último renunciou ao trono, cabendo ao Patriarca a indicação do nome do novo basileus que foi Constantino Ducas.
A grande importância da Igreja bizantina no Oriente, seu forte impulso missionário, pode ser destacada com as afirmações de P. Orlandis:
El importante papel jugado por la Iglesia griega salta a la vista si se considera que la mayor parte del mundo eslavo fue cristianizado por Ella y por eso, em disciplina e liturgia, recebió las modalidades próprias del Cristianismo griego. Esta dependência de origen de las principales Iglesias eslavas com respecto al Patriarcado de Constantinopla fue causa también de que les alcanzasen las consecuencias del cisma y de que siguieran tanbién los mismos pasos de aquél, en las relaciones com el Pontificado Romano e la Iglesia latina [28].
Bibliografia

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[1] Orlandis, 107.
[2] Com uma tal nomenclatura não se deve entender um Edito concreto, dado e passado em Milano – que a quanto aprece, nunca existiu – mas, à regulamentação  da política religiosa do Império ocorrida em Milano, em fevereiro de 313, como resultado das reuniões entre os imperadores Constantino e Licínio. Acordaram a plena liberdade religiosa – ao invés da simples tolerância outorgada por Galério. Ponto marcante desse comum acordo foi a devolução dos lugares de culto, propriedades e bens dos quais houvesse sido despojada. Orlandis sustenta esta tese pois, “estas medidas convenidas em Milan han llegado hasta nosotros a trevés de lós edictos promulgados por Licinio para su ‘parte’ del Império, que se han conservado. Disposiciónes análogas fuerón dadas por Costantino em Occidente (Orlandis, 109).
[3] Embora muitos historiadores católicos julgam que a Batalha de Ponte Mílvio – de outubro de 313 –, assinale a ‘conversão’ costatiniana, sua entrada ‘oficial’ na Igreja verificou-se tão somente no ano 337, quando recebeu o batismo, já às vésperas de sua morte (Orlandis, 108). Outrossim, como sentencia Orlandis,
[4] O donatismo nasce a partir da divisão do episcopado e do clero por causa da eleição do bispo de Cartago; posteriormente, ocorreram agitações sociais e a afirmação de um separatismo antirromano das populações númidas. Donato, de sua parte, transformou o cisma em heresia ao formular uma falsa doutrina eclesiológica  que concebia a Igreja Católica como uma comunidade integrada tão somente por ‘justos’. Deste ponto nascera uma errônea teologia sacramental – quando exigiu que os pecadores, os lapsi, que havia sido infiéis durante a última perseguição de Deoclesiano, fossem re-batizados para que pudessem voltar à Igreja e, ainda, quando sustentou a invalidez do batismo conferido por um sacerdote ‘caido’ (Orlandis, 88-89).
[5] O arianismo privava de fundamento o mistério da Trindade fundada sobre a identidade de Pai, Filho e Espírito Santo. Ario sustentava que, visto que o Cristo tinha sido gerado, a sua natureza não podia ser idêntica àquela do Pai; não podendo ser eterno, como Este. À base de suas afirmações está uma interpretação estreitamente racionalista dos textos: era ilógico, para ele, que a divindade, única e absoluta, pudesse admitir outras duas figuras – o Filho e o Espírito Santo, e, logo, poder-se-ia reconhecer, somente a divindade de Deus (Giampaglia, 40).
[6] O pagão era, originalmente, o habitante das zonas rurais, o camponês. O adjetivo nasce no tempo em que as cidades já possuíam entre suas populações maioria cristã, enquanto, nas zonas rurais, os habitantes do pagus – os pagãos - permaneciam fora da Igreja Católica, aferrados a suas ancestrais tradições e cultos.
[7] Com a Queda da parte Ocidental do Império – que compreendia o mundo latino – após as invasões germânicas, o Oriente – de cultura grega – teria um destino diverso pois si centrava entrono a Constantinopla, a New Rome erigida por Constantino. Este Império bizantino ainda sobreviveria muito séculos, praticamente, até o umbral da modernidade.
[8] No Ocidente a Igreja usou a língua grega somente nos primeiros séculos como língua de culto. Desde a IV século a língua passou a ser totalmente latina. Tanto que no V século a Cúria normalmente desconhecia a língua helênica e a maioria do Padres Ocidentais a desconhecia, “mientras que los orientales ignoraban cada vez más el latín y menospreciaban la literatura escrita em esta lengua” (Orlandis, 137).
[9] Orlandis, 153. os Patriarcados do século IV eram: Roma, Constantinopla, Antioquia, Jerusalém e Alexandria.
[10] Já em Calcedônia (451) o Oriente entendia o primado do Bispo de Roma como “una primacía de honor [...] reconocimiento de la autoridad del obispo de Roma em matéria doctrinal; pero desconocimiento de uma potestad disciplinaria de los Papas sobre lãs iglesias de Oriente” (Orlandis, 154).
[11] “Esta misma incomunicación fue um obstáculo para enriquecer la ciencia teológica com las aportaciones de los Padres de la Iglesia que escribían em outro idioma, dificultando sobre todo la recepción em Oriente de la trascendental aportación doctrinal de Agustín de Hipona” (Orlandis, 137). Já naqueles séculos podia-se falar de uma Igreja Latina e de outras orientais, encabeçadas pela Igreja Bizantina; de um cristianismo ocidental e outro oriental de cultura grega, copta ou siríaca.
[12] Antioquia, Jerusalém e Alexandria (Orlandis, 261).
[13] Esta união entre o Império Oriental e o Igreja bizantina foi impropriamente conhecida com o nome de cesaropapismo, dando a entender a existência de um perfeito conúbio, o que, por outro lado, a própria historiografia nega, haja vista os contrastes surgindo entrono dos limites jurisdicionais dos Imperadores e dos patriarcas. De qualquer modo, esta união foi assegurando a independência da Igreja bizantina, tutelando seus particularismos disciplinares e litúrgicos; enfim, de sua independência em relação a Roma (Orlandis, 262).
[14] Orlandis, 263. El origen del nombre Pauliciano es oscuro. Gibbon, en su Decadencia y Caída, dice que significa “Discípulos de San Pablo(Photius, op. cit., II, 11; III, 10; VI, 4). Su especial veneración por el apóstol, y su hábito de renombrar sus líderes de acuerdo a sus discípulos puso algún color a esta visión. De otro lado, la forma (Paulikianoi, no Paulianoi) es curiosa; y el nombre parece haber sido usado sólo por sus oponentes, quienes mantuvieron que ellos eran seguidores de Pablo de Samosata (Conybeare, op. cit., cv) …La última autoridad, Ter-Mkdrttschian (Die Paulicianer, 63), dice que el nombre es un diminutivo Armenio y significa “seguidores del pequeño Pablo” (Cf. Fortesque, «Paulicians», The Catholic Encyclopedia, XI, New York, Robert Appleton Company, 1911 [Online Edition]; Grabar, 112, 126).
[15] Na verdade a historiografia confirma que este Concílio foi realizado no palácio de Hieria, do outro lado do Bósforo, em frente a Constantinopla; e que a última sessão decorreu na Igreja de Santa Maria de Blaquerna. Estiveram presentes 388 bispos. Não compareceram, porém, nenhum dos cinco patriarcas nem quaisquer representantes seus. A sé de Constantinopla estava vaga desde a deposição de Anastácio no início daquele ano, enquanto que Antioquia, Jerusalém e Alexandria estavam sob o controlo dos sarracenos
[16] Dentre estes defensores, o maior expoente fora João Damasceno. Este Concilio, por outro lado, foi considerado acéfalo pois não contou nem com a participação do Papa – ou de um legado pontifício – e nem sequem de um qualquer os patriarcas. Por este motivo o Papa Estevão II chamou-o de Sínodo Execrável (Cf. Orlandis, 264).
[17] Damasceno considerava as imagens “sermões silenciosos; livros para os analfabetos”. João distinguia a adoração da veneração, (Cf. Orlandis, 264).
[18] Cf. Orlandis, 264. Anatemi riguardo alle sacre immagini: Se qualcuno non ammette che Cristo, nostro Dio, possa esser limitato, secondo l'umanità, sia anatema. Se qualcuno rifiuta che i racconti evangelici siano rappresentati con disegni, sia anatema. Se qualcuno non saluta queste (immagini), (fatte) nel nome del Signore e dei suoi santi, sia anatema. Se qualcuno rigetta ogni tradizione ecclesiastica, sia scritta che non scritta, sia anátema (Magistero Pontifício, http://digilander.iol.it/magistero/).
[19]His itaque se habentibus, regiae quasi continuati semitae, sequentes que divinitus inspiratum sanctorum patrum nostrorum magisterium et catholicae traditionem ecclesiae - nam Spiritus sancti hanc esse novimus, qui nimirum in ipsa inhabitat -, definimus in omni certitudine ac diligentia, sicut figuram pretiosae ac vivificae crucis, ita venerabiles ac sanctas imagines proponendas, tam quae de coloribus et tessellis, quam quae ex alia materia congruenter se habente in sanctis Dei ecclesiis et sacris vasis et vestibus et in parietibus ac tabulis, domibus et viis; tam videlicet imaginem domini Dei et salvatoris nostri Iesu Christi, quam intemeratae dominae nostrae sanctae Dei genitricis, honorabilium que angelorum, et omnium sanctorum simul et almorum virorum. Quanto enim frequentius per imaginalem formationem videntur, tanto qui has contemplantur, alacrius eriguntur ad primitivorum earum memoriam et desiderium, et his osculum et honorariam adorationem tribuendam. Non tamen veram latriam, quae secundum fidem est, quae que solam divinam naturam decet, impartiendam; ita ut istis, sicuti figurae pretiosae ac vivificae crucis et sanctis evangeliis et reliquis sanctis monumentis, incensorum et luminum ad harum honorem efficiendum exhibeatur, quemadmodum et antiquis piae consuetudinis erat. Imaginis enim honor ad primitivum transit; et qui adorat imaginem, adorat in ea depicti subsistentiam” (Concilia oecumenica et generalia Ecclesiae catholicae - Concilium Nicaenum II a. 787, http://www.documentacatholicaomnia.eu/04z/z_0787-0787__Concilium_Nicaenum_II__Documenta__LT.doc.html).
[20] Nicolau I escreveu uma extensa resposta às questões postas por Boris. Esta resposta passou à historia como as Responsa ad consulta Bulgarorum, de grande interesse para os estudiosos da hisotira da doutrina católica. Em seu aspecto disciplinar as Responsa, desde a perspectiva grega, possuía um tom pejorativo pois exaltava a superioridade romana no celibato do clero; tocando também na questão das segundas núpcias e na liturgia matrimonial (Cf. Orlandis, 267).
[21] Ιγνάτιος foi o patriarca de Constantinopla por dois períodos: de 847 até 858, e novamente de 867 até a sua morte, em 23 de outubro de 877. No martirológio romano da Igreja Católica Romana, ele é considerado um santo, comemorado no dia 23 de outubro. O seu nome de nascença era Nicetas e ele era filho do imperador bizantino Miguel I e de Procópia. Seu avô por parte de mãe era o imperador Nicéforo I, o Logóteta (Cf. O’Connor, J.B., «St. Ignatius of Constantinople», The Catholic Encyclopedia: An International Work of Reference on the Constitution, Doctrine, Discipline, and History of the Catholic Church, VII, Robert Appleton Company, 1913).
[22] Φώτιος I de Constantinopla foi o patriarca de Constantinopla por dois períodos (858-867 e, 877-886). Ele é reconhecido pela Igreja Ortodoxa como São Fócio, o Grande; considerado o mais poderoso e influente patriarca de Constantinopla desde João Crisóstomo e como o mais importante intelectual de seu tempo; uma figura central tanto na conversão dos eslavos ao cristianismo quanto no cisma de Fócio. Era um homem bem educado nascido de uma família nobre de Constantinopla. Seu tio-avô era o falecido patriarca Tarásio. Ele pretendia se tornar um monge, mas escolheu ser um acadêmico e um estadista ao invés disso. Em 858 d.C., o imperador Miguel III, o Ébrio depôs o patriarca Inácio e Fócio, ainda um leigo, foi levado ao trono patriarcal em seu lugar. Em meio a disputas de poder entre o papa e o imperador bizantino, Inácio foi reconduzido ao cargo e Fócio foi derrubado pela primeira vez. Ele reassumiu a posição com a morte de Inácio em 877 por ordem do imperador e com a aprovação do novo papa, João VIII. Os católicos consideram o IV Concílio de Constantinopla, que anatemizou Fócio como legítimo, enquanto que os ortodoxos consideram um outro concílio, homônimo, que reverteu o primeiro, como legítimo. Esta contestação mútua sobre o que seria o oitavo concílio ecumênico marca o final da harmonia representada pelos sete primeiros concílios ecumênicos aceitos pelas duas Igrejas (Cf. Cross, F.L., ed., «Photius», The Oxford dictionary of the Christian church, New York, Oxford University Press, 2005).
[23] Orlandis, 272.
[24] Miguel I (1000-1059), dito Cerulário, foi o patriarca de Constantinopla ente 1043 e 1054. Foi durante o seu patriarcado que ocorreu o Grande Cisma que separou a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.
[25] Papa Leão IX (1002-1054), foi papa de 12 de fevereiro de 1049 até a data de sua morte. Foi principalmente um papa viajante, trabalhando pela paz na Europa; um reformador, tendo-se inscrito na reforma dita «gregoriana», convocando durante seu pontificado 12 Concílios. Suas principais lutas foram contra: a taxa eclesiástica (a simonia); o casamento bem como a concubinagem dos padres (o nicolaísmo); os bispos não deveriam ser príncipes do Império, mas simples teólogos; o retorno dos valores do cristianismo primitivo. São Leão é festejado em 19 de abril, dia do aniversário da sua morte.
[26] Humbert de Moyenmoutier (também Humbertus Burgundus, Humbertus de Silva Candida); foi um prelado francês, cardeal e um oblato beneditino. Foi secretario e conselheiro do bispo de Toul, que após ter sido eleito papa, em 1049, com o nome de  Leão IX, convidou-o a Roma e o fez arcebispo da Sicília (mesmo sendo impedido pelos ítalo-normandos de desembarcar na ilha) e, posteriormente, cardeal-bispo da diocese suborbitária de Santa Rufina – Selva Candida –, em 1050. Estreito colaborador dos papas Leão IX e Nicolau II; com Píer Damiani eIldebrando de Soana, posteriormente eleito para o Sólio Pontifício com o nome de Gregório VII, um dos máximos fautores da reforma da Igreja do século XI. Sob Leão, tornou-se o principal secretário papal e, numa viagem, em 1053, recebeu de João, bispo de Trani, uma carta de Leão de Ácrida, criticando os costumes e as práticas litúrgicas ocidentais. Ele traduziu a carta do grego para o latim e a entregou ao papa, que ordenou que uma resposta fosse composta. Esta troca fez com que Humberto fosse enviado como chefe de uma missão, que tinha também Frederico de Lorena, futuro papa Estêvão IX, e Pedro, arcebispo de Amalfi, a Constantinopla para confrontar o patriarca Miguel Cerulário. Ele foi cordialmente recebido pelo imperador bizantino Constantino IX Monômaco, mas foi ignorado por Miguel. Eventualmente, em 16 de julho de 1054, apesar de Leão ter morrido e seus atos a partir da morte serem inválidos, ele deixou uma bula de excomunhão no altar da Igreja de Santa Sofia durante a celebração da liturgia. Este evento cristalizou oficialmente o gradual cisma que vinha se formando entre o cristianismo oriental e o ocidental e sua data marca o início do Grande Cisma do Oriente.
[27] Em 1965, ambas as excomunhões foram rescindidas pelo papa Paulo VI e pelo patriarca Atenágoras I de Constantinopla quando eles se encontraram no Concílio Vaticano II. Mesmo tendo sido inválida a excomunhão do cardeal Humbert, este gesto representou um passo significativo em direção à restauração da comunhão plena novamente entre Roma e Constantinopla.
[28] Orlandis, 275.