Chaval: Democracia racial |
Desde que Oliveira Viana,
Gilberto Freyre e outros pensadores da primeira metade do século XX começaram as
buscar nuances de nossa cultura (miscigenação e sincretismo), foi si
identificando pontos de contatos culturais que permitiram aflorar a ideia do “mito
da democracia racial”. Na verdade, em nenhum momento, estes dois autores (por exemplo)
descrevem o Brasil como um paraíso racial, basta ler Casa-grande & Senzala
(Gilberto Freyre), para que se possa destronar o mito do mito da democracia
racial no Brasil. Fora destes autores, cientista sociais como Florestan
Fernandes, muito bem soube indicar, no sudeste brasileiro, em particular, as
nuances do racismo brasileiro. A imagem do brasileiro como “homem cordial” (Sérgio
Buarque de Holanda), foi camuflando o racismo tupiniquim e contribuindo para o
surgimento da ideologia da “identidade nacional”. Somo sim, como povo,
infelizmente e ainda: sexistas, racistas e regionalistas. E, quando estes dois
elementos, o sexo e o regionalismo, sabrecai sobre o negro, ai a situação
revela sua face escandalosa de um país que insiste em fingir ser igualitário para,
assim, negar o debito, inclusive histórico, para com os negros e afrodescendentes,
para com algumas regiões brasileiras e para com as mulheres. Em suma: o mito da
democracia racial esconde a face mais perversa de nossa, enquanto nação, a da negação
de que, desde o início do processo civilizatório, os africanos, como bem
explica Laurentino Gomes, em sua obra, escravidão, entraram para fazer parte
deste processo sem liberdade, desenraizados de sua terra e de sua cultura. O
mito da democracia, finalizando, é a face mais horrenda – porque negacionista –
das mazelas do nosso processo civilizatório. Cotas para concursos,
universidades, são uma busca de reparo e o reconhecimento de um direito
usurpado. Um país de democracia tão jovem e frágil, não pode se arvorar a ser
uma democracia racial plurissecular.