28 aprile, 2021

O mito do mito da democracia racial

Chaval: Democracia racial

Desde que Oliveira Viana, Gilberto Freyre e outros pensadores da primeira metade do século XX começaram as buscar nuances de nossa cultura (miscigenação e sincretismo), foi si identificando pontos de contatos culturais que permitiram aflorar a ideia do “mito da democracia racial”. Na verdade, em nenhum momento, estes dois autores (por exemplo) descrevem o Brasil como um paraíso racial, basta ler Casa-grande & Senzala (Gilberto Freyre), para que se possa destronar o mito do mito da democracia racial no Brasil. Fora destes autores, cientista sociais como Florestan Fernandes, muito bem soube indicar, no sudeste brasileiro, em particular, as nuances do racismo brasileiro. A imagem do brasileiro como “homem cordial” (Sérgio Buarque de Holanda), foi camuflando o racismo tupiniquim e contribuindo para o surgimento da ideologia da “identidade nacional”. Somo sim, como povo, infelizmente e ainda: sexistas, racistas e regionalistas. E, quando estes dois elementos, o sexo e o regionalismo, sabrecai sobre o negro, ai a situação revela sua face escandalosa de um país que insiste em fingir ser igualitário para, assim, negar o debito, inclusive histórico, para com os negros e afrodescendentes, para com algumas regiões brasileiras e para com as mulheres. Em suma: o mito da democracia racial esconde a face mais perversa de nossa, enquanto nação, a da negação de que, desde o início do processo civilizatório, os africanos, como bem explica Laurentino Gomes, em sua obra, escravidão, entraram para fazer parte deste processo sem liberdade, desenraizados de sua terra e de sua cultura. O mito da democracia, finalizando, é a face mais horrenda – porque negacionista – das mazelas do nosso processo civilizatório. Cotas para concursos, universidades, são uma busca de reparo e o reconhecimento de um direito usurpado. Um país de democracia tão jovem e frágil, não pode se arvorar a ser uma democracia racial plurissecular.